O desenvolvimento do automobilismo na cidade do Rio de Janeiro (RJ) tem como marco, na
primeira metade do século XX, a realização do Circuito da Gávea (1933-1954) e, na segunda
metade, a construção do autódromo carioca (1966) e a realização das corridas de Fórmula 1
(1978-1989). O Circuito da Gávea era o maior certame automobilístico nacional.. A perda de
condição de Capital da República, em 1960, transformou a cidade do RJ em Estado da
Guanabara (EG). Surgiu um cenário político conturbado, que teve como característica o
fantasma da fusão entre o EG e o estado do RJ. O automobilismo seguiu com parcas corridas
de rua até 1966, quando o autódromo foi inaugurado. Nesse período (1954-1966), Interlagos
efervesceu com a simbiose entre a pista e as fábricas de automóvel que se instalaram no
estado de São Paulo (SP) durante o governo de Juscelino Kubistchek (1955-1960). Entre 1967
e 1970, Interlagos fechou para reformas e, nesses três anos, o autódromo do Rio foi a
principal pista do País. Quando Interlagos reabriu, voltou a chamar atenção, pois,
impulsionada pela industrialização, a cidade de SP criou uma identidade com o
automobilismo, Nos anos 1970, o Brasil tinha um mercado de automóveis aquecido,
composto de multinacionais como Ford, General Motors, Dodge e Volkswagen. Vivia-se o
“milagre econômico”, e o governo militar fazia propagandas ufanistas, aproveitando-se dos
esportes. Uma corrida de F1 começava a tornar-se realidade para o País, pois havia interesse
político e condições tanto econômicas quanto esportivas para tal. Em 1973, ocorre
oficialmente o primeiro Grande Prêmio de F1 no Brasil, em Interlagos. Considerando o
contexto apresentado, o objetivo desta tese é entender por que a F1 ascendeu em terras
cariocas, mas deixou a cidade anos mais tarde. Para tanto, a pesquisa se divide em dois
artigos: o primeiro com o objetivo de analisar o processo que levou a F1 vir para o Rio entre
1978 e 1981, e o segundo busca entender como estas corridas se perpetuaram no Rio,
voltando para SP em 1990. Os métodos utilizados no estudo foram: pesquisa documental e
entrevista. Na pesquisa documental, os corpora analisados foram provenientes dos jornais O
Globo, Jornal do Brasil e Jornal dos Sports (84 edições de cada compulsadas) e da revista
Quatro Rodas (42 edições). As entrevistas de elite foram realizadas com os seguintes
repórteres: Celso Itiberê, Lito Cavalcanti e Flávio Gomes. Para melhor compreender os dados,
foram utilizados como suporte teórico os conceitos de campo e habitus de Pierre Bourdieu.
Ao final, concluiu-se que questões políticas e econômicas que envolviam a fusão dos estados
da Guanabara e do Rio de Janeiro, por meio de um governo de intervenção, coincidem com o
período de vinda da F1 para o autódromo carioca, apontando pretensões políticas relacionadas
à realização da corrida na cidade, que, em 1989, após uma década de má organização, chegou
a ficar ameaçada de deixar o País, o que levou a Confederação Brasileira de Automobilismo
(CBA) a buscar na cidade de SP, a partir de acordos políticos, uma alternativa para promover
o evento, fato que aponta para ideia de distinção atrelada à Fórmula 1 e para influência do
campo político como mediador principal dos motivos que fizeram esse evento trocar de
cidade no período estudado.