Ao longo de séculos, as práticas musicais de mulheres vêm sendo negligenciadas,
nos colocando à margem de diversas áreas da música. Discursos que reforçam
esse padrão são produzidos e reproduzidos até os dias de hoje. Com o propósito
de questionar tais discursos, me pergunto, na presente dissertação, de que maneira
é possível promover uma Educação Musical Feminista? Para investigar tal questão,
me debruço sobre história de práticas musicais de mulheres na música e,
especificamente, na percussão (GREEN, 2001; FRYDBER, 2010; THEODORO,
2008; GOMES, 2017). A partir disso, problematizo tais práticas com mulheres
integrantes do grupo de percussão PEPEU - Programa de Extensão em Percussão
da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - relacionando-as com o campo da
Educação Musical (SMALL, 1998; BOWMAN, 2018; GREEN, 2001; DÍAZ
MOHEDO, 2005; ROMERO 2010); e reflito, ainda, sobre metodologias feministas
com mulheres em práticas musicais percussivas. Com base em epistemologias
feministas (RAGO, 1998; KILOMBA, 2010; GARCIA, 2011; GRAF, 2012; OCHOA,
2008) e em metodologias feministas (NEVES, NOGUEIRA, 2005), questiono a
ciência tradicional. Para esse fim, escolhi a Pesquisa Participante (BRANDÃO,
BORGES, 2007; FAERMANN, 2014) como desenho de pesquisa e os Círculos
Epistemológicos (ROMÃO et al., 2006) como instrumento metodológico. Os
Círculos Epistemológicos foram encontros nos quais práticas musicais de mulheres
eram problematizadas e, também, foi um espaço para a composição de uma poética
musical relacionada a estes questionamentos. Baseando-me nos diferentes
questionamentos, pude perceber que as práticas musicais de mulheres ainda não
são reconhecidas, pois as musicistas são invisibilizadas, vistas como objeto sexual
ou, então, precisam mostrar algo além de sua interpretação para que a sociedade
as reconheça. Isso torna difícil a percepção das próprias musicistas como tal. Ao
intencionar a mudança deste cenário, penso numa possível Educação Musical
Feminista, a qual visa pensar criticamente práticas de mulheres e na qual a
solidariedade feminista tem grande papel, expressando-se como poder interruptor
do patriarcado musical. Toda a pesquisa está entrelaçada com a composição
musical e, por isso, é organizada em três movimentos. Cada movimento representa
o desenvolvimento do senso crítico em relação às temáticas da pesquisa.