Nos últimos anos, o handcycling vem se consolidando como uma modalidade excelente para
melhora da aptidão física e como modalidade paradesportiva para pessoas com lesão medular
(LM). A avaliação aeróbia e o entendimento das demandas fisiológicas nos esportes
paralímpicos são essenciais para cientistas, treinadores e atletas, principalmente em esportes de
endurance. Além disso, ela é imprescindível para prescrição dos exercícios com membro
superior, podendo assim fornecer o que é possível alcançar em termos de capacidade aeróbia.
A caracterização da relação velocidade-tempo limite, conhecida como modelo de velocidade
crítica (VC) carece de mais investigações nessa modalidade; atletas com LM tem características
específicas em relação as respostas fisiológicas e perceptuais durante o exercício de endurance.
Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi caracterizar a relação velocidade-tempo no
handcycling, bem como analisar as respostas fisiológicas e perceptuais durante o exercício na
VC em sujeitos com LM. Além disso, analisar a associação da VC com métodos
tradicionalmente utilizados (2º limiar ventilatório – LV2 e ponto de deflexão da frequência
cardíaca - PDFC) para determinação dos limiares fisiológicos. Oito atletas de handcycling com
LM sendo duas mulheres e seis homens (34 ± 4,6 anos; 69,6 ± 9,4 kg; 173 ± 8,2cm; 4
tetraplégicos e 4 paraplégicos) participaram do estudo. Os participantes realizaram em esteira
rolante, I) um teste incremental; II) três testes até a exaustão para determinação da VC; III) uma
sessão de exercício intervalado na VC. A VC foi calculada e comparada a partir de três modelos
matemáticos, sendo dois lineares e um hiperbólico. O exercício intervalado na VC foi realizado
com 5 minutos de exercício e pausas de 50 segundos, sendo proposto ao atleta completar 6
repetições (total 30 minutos de exercício) ou até atingir a exaustão. A partir desta sessão, foi
identificada a carga de treinamento através da percepção subjetiva de esforço (PSE) pós sessão
e pela FC média. Desta forma, o impulso de treino da sessão (TRIMP), foi comparado pelo
método baseado na PSE (TRIMPPSE) e outro baseado na frequência cardíaca (TRIMPFC). Os
parâmetros de VC e D’ não apresentaram diferenças (p>0,05) entre os três modelos de
determinação (Linear relação entre distância-tempo: Lin - DT; linear relação entre velocidade1/tempo: Lin - V; Hiperbólico: relação entre velocidade-tempo). Foi encontrado um excelente
ajuste em todos os modelos Lin – DT (r² = 0,99), Lin – V (r² = 0,94) e Hiperbólico (r²= 0,97);
e também um baixo erro padrão de estimativa para os modelos Lin – DT (1,79 ± 0,45%), Lin –
V (3,1 ± 1,89%) e Hiperbólico (1,79 ± 0,45%). O LV2, PDFC e a VC foram identificadas na
mesma zona de intensidade (70,8-74,1% do VO2pico), e os três métodos apresentaram boa
correlação entre as variáveis de velocidade, consumo de oxigênio (VO2) e frequência cardíaca
(FC). Durante o exercício intervalado na VC, a resposta do VO2 e as concentrações de lactato
[Lac] permaneceram estáveis ao longo das repetições. Adicionalmente, a FC após 10 minutos
de exercício também permaneceu estável ao longo do exercício intervalado na VC. De outra
forma a PSE foi aumentando ao longo do exercício. A carga de treino através dos dois métodos
foram de 127 ± 20UA (TRIMPFC) e 197 ± 33UA (TRIMPPSE), sendo diferentes entre si e os
dois métodos apresentaram uma baixa correlação (r=-0,12). Por tanto, estes resultados
demonstram que o modelo de VC apresenta uma boa aplicabilidade em atletas com LM na
modalidade de handcycling. O modelo de VC se apresenta potencialmente como uma
ferramenta para delimitação dos domínios de intensidade pesado e severo, assim como para a
determinação mais precisa de intensidades durante o treinamento intervalado. A partir das
respostas fisiológicas e perceptuais durante o exercício na VC, quando se busca um treinamento
intervalado com o estado estável das [Lac] e do VO2 em intensidades submáximas, o modelo
utilizado de (5min:50seg) se apresenta como uma interessante alternativa. Deve-se ter cautela
com a utilização da FC tanto para regular a intensidade do exercício como para o monitoramento
da carga de treino. Por outra lado, a PSE ainda se apresenta como uma alternativa para regular
a intensidade do exercício e monitoramento de carga nessa população. Em conclusão, o modelo
de VC parece ser uma boa alternativa para determinação das intensidades do treinamento em
atletas de handcycling com LM, apresentando boa associação com os métodos tradicionais
(LV2 e PDFC) para determinação dos limiares fisiológicos e quando realizado o exercício
intervalado na VC é provável estar associado com o estado estável de lactato nesses atletas.
Mais estudos são necessários para investigar as respostas na VC ou usando o modelo da VC em
exercícios com membros superiores e em indivíduos com LM, também é preciso compreender
a tolerância em exercícios de resistência na intensidade da VC.