Introdução: Os Distúrbios Respiratórios Obstrutivos do Sono podem levar a
prejuízos cognitivos, de humor e redução na qualidade de vida dos pacientes.
Diferentes domínios cognitivos podem ser afetados, tais como inteligência, memória,
atenção, linguagem, funções executivas, entre outros. Estima-se que o
comprometimento cognitivo aumente com a gravidade do distúrbio, contudo, a
magnitude desses prejuízos não se encontra bem estabelecida, especialmente nas
formas mais leves, dentre elas, a Síndrome da Resistência de Via Aérea Superior
(SRVAS) e a Apnéia Obstrutiva do Sono Leve (AOS). Objetivo: Este estudo
objetivou avaliar as funções cognitivas, de humor e qualidade de vida em pacientes
com Distúrbio Respiratório Obstrutivo do Sono de grau leve (DRS leve). Métodos:
Foram incluídos 52 participantes de ambos os sexos; com índice de massa corpórea
(IMC) < 35 Kg/m2
; idade entre 25 e 50 anos com diagnóstico clínico e
polissonográfico de SRVAS (IAH < 5 eventos/hora e IDR ≥ 5 eventos/hora e com
queixa de sonolência diurna excessiva Escala de Epworth > 10 e/ou fadiga Escala
Modificada de Impacto da Fadiga ≥ 38); AOS leve: (5 eventos/hora ≤ IAH < 15
eventos/hora com queixas) e grupo controle sem Distúrbios Respiratórios do Sono e
sem queixas. Os participantes foram alocados em 2 grupos: Grupo 1 - Controle
(n=19) e Grupo 2 - SRVAS + AOS leve ou DRS leve (n=33). As avaliações
consistiram em: exame de polissonografia (PSG); Índice de Qualidade de Sono de
Pittsburgh – PSQI; Escala de Sonolência de Epworth – ESE; Escala Modificada de
Impacto da Fadiga - MFIS-BR; “Functional Outcomes of Sleep Questionnaire” –
FOSQ; aplicação de instrumentos cognitivos que avaliam memória, atenção e
funções executivas; aplicação do Inventário de Depressão de Beck, do Inventário de
Ansiedade de Beck e Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp – ISSL,
e, por fim, medidas antropométricas também foram coletadas. Resultados: Em
relação à estrutura do sono, verificou-se que o grupo DRS leve apresentou maior
proporção do estágio do sono N2 e menor do N3 do que o grupo controle (p= 0,006,
p=0,008, respectivamente). Quanto à avaliação cognitiva, observou-se que os
pacientes com distúrbio respiratório obstrutivo do sono de grau leve apresentaram
desempenho inferior no domínio de memória episódica imediata (p=0,02), não
havendo diferença significativa nas demais funções cognitivas avaliadas. O grupo
com DRS leve apresentou aumento de sintomas depressivos e do escore de fadiga
quando comparado com o grupo controle (p=0,05, p=0,007, respectivamente.
Conclusão: O DRS leve pode estar associado a sintomas de depressão e fadiga, e
alterações na estrutura do sono com redução do sono de ondas lentas. Foi
observada alteração cognitiva no domínio de memória episódica verbal, porém, na
ausência de outras alterações, pode não ter repercussão clínica relevante. De
maneira interessante e contrária à nossa hipótese, o grupo SRVAS apresentou mais
alterações cognitivas, de maneira consistente e significante, quando comparado ao
grupo com AOS leve, entretanto SRVAS e AOS leve não diferiram em relação a
sintomas de depressão, ansiedade, estresse, fadiga, impacto na qualidade do sono,
sonolência excessiva e em alguns parâmetros do sono como LS, LSREM, TTS, ES,
N3, REM, WASO, ID, IDR, SpO2 mínima.