Considerando o processo de formação continuada como ponte entre os saberes teóricos, produzidos nas universidades, e os saberes práticos desenvolvidos pelos docentes, objetivamos, nessa pesquisa, investigar, em discursos de professores de Língua Portuguesa, a relação entre os saberes constituintes do Programa de Aprendizagem na Idade Certa (MAISPAIC) e os fazeres experenciados no ensino de produção textual. Partindo da
perspectiva dialógica da linguagem, tomamos por fundamentação teórica, os pressupostos bakhtinianos que tratam da multiplicidade da linguagem nos diversos campos da atividade humana, bem como nos respaldamos no sociointeracionismo discursivo de Bronckart, em que a linguagem é vista como um produto do meio social, diversificada em espécies de gêneros de discurso. Tais pressupostos encontram-se impressos em documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Apoiamo-nos ainda, em Antunes (2003, 2007, 2006, 2009, 2017), Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), Geraldi (1997, 2012, 2015) e demais estudiosos da linguagem, que tratam da funcionalidade dos gêneros textuais em sala de aula. Esta investigação é de abordagem qualitativa, de linha interpretativa e indutiva, cuja coleta de dados se deu pela análise documental dos referenciais do Programa, pelas observações in loco e pela realização de entrevista semiestruturada, direcionada a cinco professoras da rede municipal de educação, atuantes nas turmas de 9º ano do Ensino Fundamental. A análise dos dados sobre os saberes constituintes das formações MAISPAIC indica que: (i) a proposta fundamenta-se na dimensão sociointeracionista da linguagem, priorizando o uso concreto da língua; (ii) a produção textual é vista pelas perspectivas funcional e processual dos gêneros textuais orais e escritos. Quanto aos fazeres docentes, evidenciamos que: (i) as metodologias para o ensino de produção textual
ainda se mantêm distanciadas das formas interativas da linguagem, e (ii) os Cadernos de Práticas Pedagógicas têm pouca utilidade no ensino de produção textual. Das relações entre a teoria da formação e a prática docente, os discursos das professoras revelaram: (i) o difícil acesso aos materiais do Programa; (ii) a descontinuidade das formações de professores; (iii) a falta de um acompanhamento pedagógico das ações do Programa no município. Por fim, as nossas contribuições para o Ensino de Língua Portuguesa centram-se na reflexão crítica sobre as condições básicas dadas aos alunos no momento da produção e na melhoria dos materiais fornecidos aos professores para práticas de linguagem em sala de aula.