A pré-fragilidade física é altamente prevalente em idosas e pode aumentar a chance de cair. Pontos de corte para rastrear o risco de queda única e quedas recorrentes em idosas pré-frágeis ainda não foram estabelecidos. O objetivo do presente estudo foi analisar e comparar o perfil e o desempenho musculoesquelético e físico-funcional; e apresentar pontos de corte para discriminar idosas da comunidade pré-frágeis não caidoras (0 quedas), caidoras (queda única) e caidoras recorrentes (≥2 quedas). Estudo de natureza observacional com corte transversal, composto por 90 idosas da comunidade pré-frágeis (71,20±4,49 anos) de acordo com o fenótipo de fragilidade (perda de peso não intencional; exaustão/fadiga; diminuição da força de preensão manual; baixo nível de atividade física e; diminuição da velocidade da marcha), as idosas com um ou dois critérios foram caracterizadas como pré-frágeis. Foi utilizado o histórico de quedas para estratificar as idosas em três grupos: não caidoras (n=42); caidoras (queda única) (n=25) e caidoras recorrentes (n=23). Os desfechos primários foram Timed Up and Go (TUG) em velocidade habitual e rápida (mobilidade funcional e equilíbrio dinâmico); Velocidade da marcha habitual (VMH), rápida (VMR) e reserva de velocidade da marcha (RVM) (Teste de velocidade da marcha 10 metros); parâmetros da marcha em esteira (BIODEX): comprimento do passo e da passada, e cadência da marcha. Os desfechos secundários foram força/potência de membros inferiores (MMII) por meio do teste de sentar e levantar cinco vezes (TSL5x); força de preensão manual (FPM) (Dinamômetro Manual); pico de torque (PT) isocinético concêntrico e isométrico de extensão e flexão de joelho e planti/dorsiflexão de tornozelo (Dinamômetro Isocinético); Arquitetura dos músculos vasto lateral e gastrocnêmio medial (ângulo de penação; espessura muscular e comprimento dos fascículos) por meio de ultrassonografia; Massa Muscular (circunferência da panturrilha (CP) com fita métrica; Índice de Massa Muscular Apendicular (IMMA) e Densidade Mineral Óssea com Absormetria de Raio x de dupla energia (DXA); triagem de sarcopenia considerando: baixa força muscular (FPM; TSL5x) (provável sarcopenia); baixa massa muscular (IMMA/DXA; CP<31cm e <33cm) (confirmação da sarcopenia) e baixo desempenho físico (VM4metros/TUG) (gravidade da sarcopenia). Os testes Shapiro-Wilk, Kolmogorov-Smirnov e Levene foram utilizados para verificar a normalidade e homogeneidade da amostra. A Anova one way e Kruskal-wallis com Post Hoc de Bonferroni para a comparação entre os grupos, e para as categóricas Qui-quadrado. Para as análises da acurácia dos instrumentos do estudo foram calculados, a sensibilidade (S) e especificidade (E), Likelihood ratio positiva (LR+) (razão de verossimilhança positiva), Likelihood ratio negativa (LR-) (razão de verossimilhança negativa), valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN). Correlações entre as variáveis de picos de torque, FPM e TSL5x foram realizadas pelo teste de Pearson e Spearman, e análise de regressão linear simples quando as correlações se apresentaram moderada-alta e significativas. Todas as análises e estatísticas descritivas foram realizadas por meio do Programa SPSS®, exceto a acurácia dos instrumentos que foi realizada no programa MedCalc, adotou-se p≤0,05. As idosas pré-frágeis da comunidade (n=90) apresentaram alta frequência de quedas (53,4%); sobrepeso (29,18±4,27 Kg/m²); pouco acometimento na função do quadril e do joelho (3,37±4,53 pontos; 3,24±4,49 pontos, respectivamente); sem comprometimento cognitivo (27,3±2,44 pontos); sem depressão (3,94±0,29 pontos). A maioria das idosas eram casadas; aposentadas; com baixa escolaridade e número de doenças auto relatadas de 2,44. As idosas pré-frágeis caidoras recorrentes relataram menor número de doenças quando comparadas as idosas não caidoras e de queda única (1,91±1,27; 2,0 (0-4) vs 2,45±1,19; 2,0 (0-5) e; 2,92±1,38; 3,0 (0-5)). A situação conjugal mostrou diferença entre os grupos, não caidoras (50,0% casadas), caidoras (52,0% casadas) e; caidoras recorrentes (30,4% casadas e 30,4% viúvas). A maior prevalência (4,4%) de sarcopenia na amostra total de idosas pré-frágeis, bem como nos grupos, não caidoras (2,4%), caidoras (4,0) e caidoras recorrentes (8,7%) foi encontrada quando avaliada pela redução da FPM (<16Kgf) e baixo IMMA avaliado pela DXA (<5,5Kg/m²). Idosas caidoras recorrentes apresentaram maior frequência de osteoporose (39,1%). Foi observada redução da VMH das idosas caidoras recorrentes quando comparadas as idosas caidoras (1,12±0,18 m/s vs 1,29±0,28 m/s; p= 0,05). Da mesma forma, foi encontrada diminuição da VMR nas idosas caidoras recorrentes em relação as não caidoras (1,35±0,26 m/s vs 1,52±0,26 m/s; p=0,01) bem como quando comparadas com as idosas caidoras (1,35±0,26 m/s vs 1,50±0,29 m/s; p=0,03). Foi detectado declínio do pico de torque isométrico dos extensores de joelho quando comparou-se idosas caidoras recorrentes com as idosas caidoras (89,88±20,99 Nm vs 115,55±23,09 Nm; p=0,01). A diferença e a razão da reserva RVM foram os desfechos que apresentaram acurácia significativa para discriminar idosas pré-frágeis caidoras (queda única) de idosas não caidoras, com pontos de corte de ≤0,26 m/s e ≤1,25m/s, respectivamente. Já, VMR e comprimento do passo para discriminar idosas pré-frágeis caidoras recorrentes de idosas não caidoras, com pontos de corte de ≤1,44m/s e ≤73cm, respectivamente. E, VMH com ponto de corte de ≤1,12m/s; VMR ≤1,34m/s; comprimento do passo ≤73cm; PT isométrico de extensão de joelho ≤114,2 Nm; PT isométrico de flexão de joelho ≤46,3 Nm e; PT isométrico de dorsiflexão de tornozelo ≤22,1 Nm para discriminar caidoras recorrentes de caidoras (queda única). Concluiu-se que o desempenho musculoesquelético e físico-funcional das idosas pré-frágeis da comunidade caidoras recorrentes foi pior quando comparado com as idosas não caidoras e queda única. A maior frequência de sarcopenia na amostra de idosas pré-frágeis foi observada quando avaliada pela força de preensão manual e índice de massa muscular apendicular pela DXA. Tanto os desfechos clínicos, velocidade da marcha habitual, rápida, diferença e razão da reserva de velocidade da marcha; e o comprimento do passo e; os laboratoriais picos de torque isométrico de extensão e flexão de joelho e de dorsiflexão de tornozelo podem ser usados para discriminar idosas não caidoras, caidoras e recorrentes. Esses achados podem contribuir para identificação, prevenção e intervenção para evitar quedas em idosas. Portanto, recomenda-se que os profissionais da área da saúde utilizem os desfechos e pontos de corte detectados para rastreio e prevenção de novas quedas em idosas pré-frágeis da comunidade.