BONFIM, Joice Silva. Apropriação das águas, Matopiba e territorialização do agronegócio
no Oeste da Bahia: as águas sem fronteiras de Correntina. Dissertação (Mestrado em Ciências
Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Instituto de Ciências Humanas e
Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. 2019.
A apropriação de terras, territórios e recursos naturais é um elemento que marca o
‘desenvolvimento’ da agricultura brasileira desde o período colonial. No Oeste da Bahia, a
intensificação do monopólio e controle externo de terras e recursos naturais é impulsionado
pelo processo de expansão de fronteiras e modernização da agricultura, sobretudo a partir da
década de 1980, que culmina na consolidação e territorialização do agronegócio na região a
partir dos anos 2000. Mais recentemente, com a crise de 2008, percebe-se a intensificação do
processo de apropriação de terras, águas e recursos naturais, com a perspectiva de produção de
commodites para o mercado global. As análises apoiadas nos conceitos de land grabbing e
water grabbing afirmam que após a crise de 2008, que tem caráter financeiro, alimentar
(aumento do preço dos alimentos) e energético, há um aumento significativo da demanda por
terras, águas e recursos naturais em países exportadores de gêneros primários, a exemplo do
Brasil, que acaba por aquecer o mercado de terras, inclusive em escala global, e provocar um
aumento no preço dos ativos ligados à terra, a exemplo da água. Este contexto manifesta
especificidades com a implementação do PDA Matopiba, que representa, no Oeste Baiano um
“novo” ciclo de expansão de fronteiras, que tem na apropriação das águas um suporte
fundamental, já que esta região está situada no cerrado – principal reserva hídrica do país. Neste
sentido, o presente trabalho pretendeu analisar o papel da apropriação das águas pelas empresas
vinculadas ao agronegócio na sua territorialização no bioma cerrado do Oeste Baiano,
considerando principalmente o período de implementação do PDA Matopiba (2015-2018). Para
isso, utilizou-se como estudo de caso o município de Correntina, na Bahia, buscando identificar
as principais estratégias utilizadas pelas empresas para se apropriarem das águas,
compreendendo como o agronegócio se utiliza destas estratégias no processo de construção do
controle das águas, quais são os principais interesses envolvidos, e os conflitos provocados.
Além disso, foi possível analisar a interface entre apropriação das águas, apropriação territorial,
expansão de fronteiras e territorialização do agronegócio na região em estudo.