BEZERRA, AG. Análises sobre a relação do uso de contraceptivos hormonais e padrão de sono em mulheres em idade fértil. 2019. 176 p. Tese (Doutorado) – Departamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Estudos relatam que há uma influência forte dos hormônios esteroides sobre o sono. Em mulheres na pós-menopausa essa relação parece bem definida, pois com a queda hormonal há o aumento de queixas relacionadas ao sono. Essas queixas diminuem quando essas mulheres passam por terapia hormonal. Entretanto, os efeitos dos hormônios sintéticos, presentes nos contraceptivos utilizados pelas mulheres em idade reprodutiva, não são bem descritos em relação ao sono. A presente tese constituiu-se de dois estudos abordando o tema. O primeiro foi realizado por meio de um estudo transversal, em plataforma digital, com o objetivo de avaliar o impacto dos contraceptivos hormonais sobre o perfil de sono de mulheres na pré-menopausa. Um total de 2.055 mulheres, com idade de 18 a 40 anos, responderam o questionário online. Além de perguntas sobre a auto-percepção de parâmetros de sono, as ferramentas utilizadas para avaliar o sono foram a Escala de Sonolência de Epworth (ESE) e o Índice de Gravidade de Insônia (IGI). Um primeiro nível de análise avaliou se havia diferença entre as usuárias e as não usuárias de contraceptivos hormonais. Em um segundo nível de análise, comparou-se se havia diferença significativa nos parâmetros de sono entre o contraceptivo do tipo combinado e o contraceptivo do tipo progestágeno isolado. As gerações de contraceptivos foram avaliadas em um terceiro nível de análise e, por fim, considerou-se examinar os possíveis efeitos no sono entre os contraceptivos de progestágeno do tipo oral e os de tipo sistema intrauterino liberador de levonorgestrel. Da amostra total, somente 1286 participantes respeitavam os critérios de inclusão, das quais 918 estavam utilizando contraceptivos hormonais (Combinado: 848; Progestágeno isolado: 70). Usuárias de contraceptivo hormonal relataram mais queixas de sono e escores mais altos no ESE e IGI, ou seja, apresentaram mais sonolência e mais sintomas de insônia. Mulheres que utilizavam contraceptivo do tipo progestágeno isolado relataram menor tempo de sono comparado com
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as que utilizavam o contraceptivo do tipo combinado. Usuárias dos contraceptivos de 3a geração apresentaram menor tempo de sono e maior escore de IGI, ao serem comparadas com as não usuárias. As usuárias do sistema intrauterino liberador de levonorgestrel apresentaram menor sonolência que as usuárias de contraceptivo oral de progestágeno, avaliada pelo ESE. O segundo estudo abordou a síntese de evidências de efeitos dos contraceptivos hormonais no sono por meio de meta-análises. As bases de dados para as pesquisas bibliográficas foram o Pubmed, Scopus e Web of Science. Na primeira fase de busca foram selecionados 2402 artigos, que após aplicação de critérios de inclusão gerou uma amostra de dez artigos com a possibilidade de análise de 13 parâmetros relacionados ao sono. Só foi possível incluir estudos de desenho antes e depois, transversal e coorte, o que denotou ao estudo uma característica mais exploratória. O único resultado significativo foi o tempo total no leito, entretanto esse dado isolado de outros parâmetros de sono não permite conclusões em torno do tema. A análise desses dados evidenciou uma escassez de trabalhos científicos nesta área e a necessidade de se promover estudos sobre os possíveis efeitos dos contraceptivos hormonais no sono de mulheres em idade reprodutiva.
Palavras-chave: Progestágeno; Estrógeno; Hormônios Esteróides; Insônia; Meta-análise.