O objetivo do presente estudo censitário foi avaliar a prevalência das anomalias dentárias
(AD) e a sua possível associação com os diferentes padrões de crescimento facial (PCF) e as maloclusões esqueléticas (ME) em uma população ortodôntica. Para tanto, 1521 prontuários ortodônticos de todos os pacientes atendidos, no período de 2000 a 2013, nos Departamentos de Ortodontia de duas instituições de ensino de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, foram avaliados. Foram excluídos (n=474) os prontuários que não continham ambas as radiografias (panorâmica e cefalométrica de perfil), pacientes com idade inferior a 08 anos e presença de síndrome, fissura lábio/palatina e desequilíbrios metabólicos e/ou endócrinos. Através da radiografia cefalométrica de perfil, o ângulo SnGoGn foi obtido para verificar o PCF (Hipodivergente, Normal e Hiperdivergente) e o ângulo ANB, para classificar as ME (Classe I, II e III). Os diagnósticos das AD foram realizados na radiografia panorâmica por um único operador calibrado. Para o diagnóstico de agenesia de terceiros molares (3M), foram excluídos (n=216) os pacientes cuja confirmação de extração destes dentes não foi possível. A frequência e a porcentagem de cada AD foram calculadas. As variáveis gênero, etnia, AD e dente mais afetado foram testadas através dos Testes QuiQuadrado e Exato de Fisher com nível de significância de 5%. A Razão de Chance foi
realizada para avaliação da intensidade e direção das possíveis associações. Além disso, o Teste T-Student foi utilizado para comparar diferenças entre os grupos. A amostra final foi composta por 1047 pacientes e a prevalência de AD foi de 77%. Do tota l, 56,7% eram do gênero feminino e 64,9%, afrodescendentes, com média de idade de 16,41 (±10,61). As AD mais prevalentes foram impactação (68,6%), giroversão (54%) e agenesia (9,7%), excluindo os 3M, respectivamente. Além disso, observou-se uma media de 3,08 (±1,93) dentes afetados por paciente e 51,2% apresentaram mais de uma AD. Dentre os 831 pacientes incluídos no diagnóstico de presença ou ausência de 3M, 11,2% apresentaram agenesia de 3M e 75,3% apresentaram outra AD, fora a agenesia de 3M. O 3M inferior esquerdo foi o dente mais afetado na impactação, o canino inferior direito, na giroversão e o incisivo lateral superior direito foi o dente mais ausente, excluindo os 3M. As AD foram mais prevalentes na
ME de Classe III (80,8%) e no PCF Hipodivergente (82,5%). Agenesia de outros dentes,
excluindo os 3M, apresentou associação com o PCF Hipodivergente (p<0,01) e a microdontia, com a ME de Classe III (p=0,25). A agenesia de 3M apresentou associação com agenesia de outros dentes, microdontia e associação inversa com impactação (p<0,01). As AD apresentaram alta prevalência e devem ser cuidadosamente investigadas e consideradas no planejamento do tratamento ortodôntico.