DULCI, Luiza Borges. O Sul de Minas Gerais e a governança da rede de produção global do
café no século XXI. 2021. 333 p. Tese (Doutorado de Ciências Sociais, em Desenvolvimento,
Agricultura e Sociedade). Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Departamento de
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, RJ, 2021.
Café. Mundialmente comercializado em grãos verdes, torrado e moído, solúvel e em cápsulas,
assim como em bebidas cafeinadas diversas, sua dinâmica de produção e consumo expressa uma
divisão internacional do trabalho, na qual países do Sul cultivam e países do Norte consomem. O
Brasil se apresenta como um ponto fora da curva, na medida em que produz mais de um terço do
café do mundo e constitui-se como o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.
O Sul de Minas Gerais se destaca como principal região cafeeira do país, contabilizando um terço
do café nacional e dez por cento do café mundial. Nesse contexto, a pesquisa busca responder à
pergunta de por que o Brasil e o Sul de Minas Gerais em particular, têm sido incapazes de capturar
e usufruir de parcela expressiva da renda gerada pela rede de produção global do café? O trabalho
evidencia que as dificuldades encontradas pelas regiões e pelos grupos sociais dedicados ao cultivo
do café, no Brasil e no mundo, refletem arranjos de relações que sustentam padrões específicos de
governança, com destaque para a regulação; a concentração e a internacionalização das empresas;
e a financeirização. Acrescenta-se a isso os efeitos do chamado Paradoxo do Café, que contrasta a
desvalorização dos grãos e de seus produtores nos países do Sul com a valorização nas cafeterias
e supermercados dos países do Norte. A realização da pesquisa implicou o uso de fontes orais e
textuais, bem como de métodos quanti e qualitativos. Fontes primárias envolvem 44 entrevistas e
visitas de campo em Minas Gerais. Fontes secundárias correspondem à análise de dados sobre o
mercado mundial e brasileiro de café provenientes de instituições públicas e privadas, empresas,
cooperativas, universidades e institutos de pesquisa, bem como da literatura especializada no tema.
Com base nas fontes analisadas sustentamos a hipótese de que a atuação dos atores privados e
públicos envolvidos com o negócio do café no Brasil têm sido insuficientes para superar a condição
de subordinação e reverter os padrões de desigualdade que caracterizam a rede. O mercado de cafés
especiais se apresenta como uma alternativa capaz de reverter padrões de desigualdade, na medida
em que abre possibilidades de encurtar circuitos de comercialização e consumo e remunerar melhor
os agricultores. Porém, os dados mobilizados na pesquisa indicam que ele se encontra amplamente
dominado por dinâmicas corporativas. Ademais, a crescente valorização do café no Norte se dá,
sobretudo, em razão de atributos imateriais, criados no momento do consumo, de maneira que a
renda auferida não é revertida aos agricultores. Diante desse contexto, questiona-se os limites das
estratégias de inserção em uma rede controlada por grandes multinacionais situadas no Norte e de
uma distribuição mais equitativa e justa da renda e do poder considerando o padrão de governança
atual. Mudanças necessárias apontam para o fortalecimento das capacidades estatais de apoio à
agricultura e indústria.