Definida por anormalidades funcionais e estruturais dos rins, a doença renal crônica (DRC) é caracterizada por perda irreversível e progressiva da função renal, por tempo superior a três meses, decorrente de inúmeras doenças que comprometem os rins. Classificada em cinco estágios, sendo o Grau V denominado insuficiência renal crônica (IRC). Além do comprometimento renal, o tratamento de hemodiálise (HD), leva o indivíduo a desenvolver a síndrome urêmica, afetando múltiplos sistemas, incluindo o sistema respiratório e músculo esquelético. O treinamento muscular inspiratório (TMI) vem sendo utilizado para tratar pacientes em diversas situações buscando melhorar a função muscular inspiratória, capacidade funcional, dispneia aos esforços e a qualidade de vida, mas, não foi amplamente estudado em indivíduos com IRC. Os objetivos deste estudo foram avaliar os efeitos do TMI, na função pulmonar e muscular respiratória, capacidade funcional e cardiorrespiratória, e na qualidade de vida de indivíduos com IRC em HD. Foram estudados 21 indivíduos com IRC, submetidos à HD, randomizados em dois grupos: grupo treinamento muscular inspiratório (TMI) (idade [53,82±8,98] anos) e grupo controle (GC) (idade [54,67±5,77] anos). A avaliação constou, de anamnese, avaliação muscular respiratória, por meio das medidas da pressão inspiratória máxima (PImáx), pressão expiratória máxima (PEmáx) e pressão Inspiratória Máxima Sustentada (PImáxS); avaliação da função pulmonar por meio da capacidade vital lenta (CVL), capacidade vital forçada (CVF) e ventilação voluntária máxima (VVM); avaliação da capacidade funcional, por meio da distância percorrida no Incremental Shuttle Walking Test (ISWT), e da aptidão cardiorrespiratória por meio do consumo máximo de oxigênio (VO2max), e da qualidade de vida através do questionário Kidney Desease Quality of Life Short – Form (KDQOL-SF). O TMI foi realizado por três meses, três dias na semana, durante a sessão de HD, sendo quatro séries com 15 inspirações, com o dispositivo Powerbreathe®. A carga de treinamento foi de 50% da PImáx, reajustada a cada 6 sessões. O GC foi acompanhado durante todas as sessões de HD, porém não realizou o TMI. Após o período de 3 meses ou 36 sessões de TMI, todos os participantes foram reavaliados. Para as comparações das variáveis foi realizada a análise de variância medidas repetidas (ANOVA). Foi considerado significativo o valor de p<0.05. Após o TMI foi observado uma interação significativa (grupo versus tempo) para as variáveis PImáx, PImáxS e CVL evidenciando maiores valores no TMI (PImáx: 90,9±23,0 versus 94,9±33,8 cmH2O, p= 0,005, PImáxS: 62,1±17,1 versus 63,8±16,3 cmH2O, p=0,03, CVL: 3,38±0,91 versus 3,72±0,94 L, p=0,02), além de um aumento significativo intra grupo, da CVL e %CVL para o TMI (CVL= 3,38±0,91 versus 3,72±0,94 L, p=0,03, %CVL= 99,9±55,3 versus 106,99±53,3, p=0,03). Em relação ao GC foi encontrada uma redução da PImáxS sendo: (PImáxS= 64,1±29,9 versus 47,5±17,9 cmH2O p=0,01). No que se refere à distância percorrida, VO2máx, e qualidade de vida não foram encontradas diferenças intra e entre grupos, p>0,05. Conclui-se que, o TMI supervisionado, realizado três vezes por semana, durante a sessão de HD, por três meses, promoveu aumento da força e da resistência muscular inspiratória e da capacidade vital, entretanto, não alterou a capacidade funcional, cardiorrespiratória e a qualidade de vida de indivíduos com IRC em hemodiálise.