Esta pesquisa buscou compreender o quotidiano de idosos com doença celíaca, considerando
aspectos de suas histórias de vida envolvendo o lazer e a promoção da saúde. De forma
específica, buscou conhecer o quotidiano desses idosos; desvelar sua história de vida, antes e
após o diagnóstico da doença celíaca; identificar as potências e os limites para o tratamento
dessa doença, que repercutem em suas vivências no lazer e na promoção da saúde; revelar
suas imagens sobre o processo saúde-doença-cuidado e sobre o lazer; e, apresentar suas
vivências no lazer. O estudo teve abordagem qualitativa e características descritivoexploratórias, sendo sustentado teoricamente pela sociologia compreensiva e do quotidiano
apresentada na obra de Michel Maffesoli. A estratégia metodológica da história de vida tópica
orientou a coleta de dados. Foi utilizada a técnica de amostragem intencional denominada
“bola de neve”. Participaram nove idosas, com média de idade de 67 ± 6,6 anos, residentes
em Florianópolis/SC, São José/SC e Governador Celso Ramos/SC. Foi utilizada entrevista em
profundidade e diário de campo. O modelo de análise qualitativa e estruturado pelos dados,
conforme Schatzman e Strauss, serviu de referência às compreensões. Elas foram organizadas
em oito categorias temáticas: 1) “Conhecendo as narradoras-protagonistas”: apresentadas as
características de cada idosa, relacionadas a diferentes momentos e aspectos da vida,
mostrando a força existente no seus viveres atuais e vividos passados; 2) “O antes da doença
celíaca”: destacadas variadas formas de vividos, mas que integraram um aspecto comum:
todas, de algum modo, conviveram com sintomas dessa doença; 3) “O diagnóstico”: reveladas
distintas formas de descoberta dessa doença, mas que, para todas, ocorreu após os 40 anos de
idade; 4) “A vida após o diagnóstico”: marcada pela necessidade de mudanças diversas
(trabalho, lazer, família, etc.); 5) “Os dias atuais”: envolvidos em cuidados necessários ao
tratamento dessa doença e em rotinas diversas; 6) “O lazer”: apresentadas vivências variadas e
imagens, envolvidas, em síntese, por aspectos sensíveis; 7) “Imaginário sobre o processo
saúde-doença-cuidado”: contemplou imagens múltiplas, mas que caminharam no mesmo
sentido de consideração de sensibilidades; 8) “Potências e limites” para o tratamento da
doença celíaca, que repercutem em vivências no lazer e/ou na promoção da saúde, de forma a,
respectivamente, facilitá-las/impulsioná-las ou dificultá-las/restringi-las. Em suma, essa
pesquisa possibilitou compreender que o tratamento da doença celíaca implica mudanças
variadas na vida quotidiana das idosas que convivem com essa doença; mudanças essas
destacadas tanto no lazer, especialmente nas vivências sociais manifestadas nessa dimensão
da vida humana, quanto na promoção da saúde; relacionadas, inclusive, a potências e a limites
para o seguimento do tratamento demandado por esse doença (dieta sem glúten). Por isso, a
compreensão do quotidiano dessas pessoas, considerando suas histórias, possibilitou um olhar
ampliado e cuidadoso para com suas vidas, colaborando para a construção desse
conhecimento em forma de tese, o qual, por sua vez, contribui para o desenvolvimento de
teorias e práticas em lazer e saúde mais (a)efetivas; isto é, mais próximas dos interesses e das
necessidades de idosos com doença celíaca, assim como mais conectadas às particularidades
do processo de envelhecimento que vivenciam.