Ao longo da história, homens e mulheres tiveram oportunidades desiguais para a prática
esportiva. Enquanto eles constituem o cânone esportivo, elas continuam lutando para garantir
o seu direito à prática de qualquer modalidade. Assim, objetivamos explorar as relações entre
as ondas feministas e a participação das mulheres no esporte para entender as origens
históricas que marcam as relações de gênero, poder e resistência que atravessam e constituem
as disciplinas de esportes coletivos em um curso de Licenciatura em Educação Física.
Organizamos em dois momentos: primeiro, objetivamos explorar a relação entre as quatro
ondas feministas articuladas à inserção e a permanência das mulheres nos esportes e, ao
mesmo tempo, evidenciar como as mulheres desmoronam barreiras esportivas, engajam-se
nos movimentos feministas e ampliam a sua adesão aos esportes, por meio de uma pesquisa
bibliográfica produzida a partir de livros e periódicos nacionais e internacionais e inspirada na
análise de discurso foucaultiana. As análises apontam que nas duas primeiras ondas
feministas, as mulheres buscavam conquistar o direito ao voto e ao seu próprio corpo
enquanto no esporte lutavam contra a interdição da sua presença no campo e os estereótipos
advindos da inserção esportiva. Na terceira onda a luta convergia contra os essencialismos e a
favor da pluralidade das vivências e práticas cotidianas. Impulsionada pelas redes sociais, na
quarta onda, lutamos contra as violências cotidianas e pela equidade nas práticas esportivas.
No segundo momento, objetivamos compreender as relações de gênero, de poder e resistência
que emergem entre os/as estudantes e atravessam as disciplinas de esportes coletivos em um
curso de Licenciatura em Educação Física. Nesta pesquisa qualitativa, do tipo etnográfica,
participaram 86 estudantes de 4 disciplinas de esportes coletivos. As fontes de pesquisa foram
produzidas no segundo semestre de 2019 em uma instituição universitária do interior do Rio
Grande do Sul pela observação participante, grupos focais e entrevistas, submetidas à
triangulação de dados, com o auxílio do software Nvivo 12, e à análise de discurso
foucaultiana. Os resultados apontam que homens e mulheres reproduzem o cânone esportivo
e reinventam relações. Frequentemente, os homens ocupam posições privilegiadas nos jogos e
as mulheres são posicionadas como coadjuvantes. Entretanto, as mulheres e alguns homens
produzem múltiplas resistências para acessar, permanecer e transformar o contexto esportivo.
Ao aproximar os resultados dos estudos produzidos, constatamos que a incursão nos
movimentos feministas, explorando as relações entre as mulheres e o esporte, autorizou-nos a
identificar que os feminismos pouco desassossegaram as aulas de esportes coletivos da
formação inicial de professores/as de Educação Física, pois, ainda observamos que certos
homens ocupam posições privilegiadas nos jogos. Em contraposição, as mulheres e alguns
homens ao produzirem resistências, ensaiam novas relações e se aproximam do potente
movimento da quarta onda feminista.