O presente estudo analisou a construção do modelo de jogo das seleções masculinas de
Handebol do Brasil. Participaram do estudo descritivo três treinadores e três assistentes técnicos
das seleções brasileiras masculinas de Handebol nas categorias adulta, júnior (U21) e juvenil
(U19) nas temporadas 2016 e 2017. Na coleta de dados utilizou-se o Questionário de Perfil de
Formação do Treinador (QPFT) e a observação direta das sessões de treino das seleções juvenil
(U19) e adulta realizadas durante as temporadas esportivas de 2016 e 2017, com posterior
classificação das tarefas nas categorias de variáveis pedagógicas (IBÁÑEZ, 2008), de carga
externa (COQUE, 2009) e organizativas (ALÁRCON et al., 2008), sendo respeitados todos os
princípios éticos dos investigados. Os recursos da estatística descritiva e inferencial, bem como
os coeficientes alfa de Cronbach, de correlação de Pearson e Intraclasse (ICC) e análise fatorial
exploratória e combinatória foram utilizados para validação transcultural do questionário. Na
análise dos resultados da aplicação dos questionário foram utilizadas as técnicas nãoparamétricas Teste de Wilcoxon, Prova U de Mann Whitney e Kruskal Wallis. Na análise dos
dados das tarefas implementadas no processo de treino foram empregados os recursos da
estatística descritiva e inferencial, como as distribuições de frequência absoluta e temporal das
tarefas e as tabelas de referência cruzadas (X2
e V de Cramer) e posterior interpretação dos
resíduos tipificados corrigidos, além do teste de Anova fatorial, com teste post hoc Ryan-EinotGabriel-Welsch Range (R-E-G-W-Q) e o teste de comparação do efeito Sidak, para comparação
da distribuição temporal das tarefas de treino, com nível de significância de 5%. Os resultados
indicaram elevados níveis de estabilidade e consistência interna na validação transcultural do
QPFT, como também a obtenção do pressuposto de invariância de medida da versão brasileira.
Os treinadores e treinadores assistentes investigados estruturam o processo de treino do modelo
de jogo das seleções masculinas de Handebol a partir das fontes de conhecimento procedentes
da sua “experiência profissional”. Há também elevada valorização das fontes de conhecimentos
procedentes da “formação acadêmica”. Na estruturação das tarefas de treino das seleções, os
resultados indicaram formas similares de distribuição das tarefas de treino entre os treinadores
das seleções U19 e adulta, implementando tarefas de treino que incluíam muitos elementos
formais e funcionais do jogo, com adequações nas tarefas de treino da seleção U19 para atender
as características formativas do jogadores, que priorizavam o desenvolvimento cognitivo dos
jogadores por meio de resolução de problemas e frequentes manipulações dos treinadores nos
elementos formais das tarefas para proporcionar situações com exigências similares ao jogo. A
distribuição temporal das tarefas de treino foi similar entre os treinadores das seleções U19 e
adulta, com elevados períodos de tempo disponibilizados em situações de oposição igual e com
a interação de toda equipe, com exigências de esforços de alta intensidade e características
competitivas ao “jogo formal”, qualificando o processo de treino das seleções U19 e adulta
como adequado para o desenvolvimento de elevado nível competitivo dos jogadores de
handebol de elite. Conclui-se que, na construção do modelo de jogo proposto às seleções
brasileiras de Handebol masculinas, os treinadores e seus respectivos assistentes estruturam o
processo de treino baseando-se em fontes de conhecimento procedentes da experiencia
profissional, cujo design das tarefas de treino está pautado em modelos alternativos, que
incluem um número maior de elementos formais e funcionais do jogo, com prioridade no
desenvolvimento cognitivo dos jogadores por meio de resolução de problemas. Além disso, as
manipulações frequentes dos elementos formais das tarefas promoveram alterações na carga de
treino, proprocionando situações com exigências similares ao jogo, sem distinções entre as
seleções U19 e adulta, auxiliando os jogadores na aquisição dos comportamentos táticotécnicos necessários à prática competitiva de elite.