Cognição Incorporada (CI) é um tema recente em Ciências Cognitivas e Filosofia da Mente que designa tanto uma área de pesquisa experimental sobre relações entre mente e corpo, quanto um novo conceito de cognição. Refere-se a aspectos do corpo vivido como posturas, gestos, expressões faciais, movimentos, estados e sensações corporais, mas também do corpo enquanto organismo, como ativações dos circuitos neurais relativos ao corpo vivido, sem manifestação expressa. Dados empíricos abundantes apontam influências recíprocas entre o corpo e processos cognitivos, incluindo ainda afetividade e motivação, porém, a interpretação encontra-se longe de um consenso. Há uma proliferação teórica variando da moderação ao radicalismo conforme as rupturas com o Cognitivismo, e frequente imprecisão quanto às definições básicas adotadas. Conclui-se pela falta de clareza do conceito, o que importa à compreensão dos fenômenos, avanço teórico e aplicação criteriosa. Com o objetivo de apresentar o tema precisamente e contribuir para seu esclarecimento conceitual, este é um estudo teórico, essencialmente bibliográfico e reflexivo, sobre as abordagens moderadas da CI na Psicologia Cognitiva. É assim estruturado: apresentação do conceito de cognição e do problema mente-cérebro; caracterização bibliográfica da CI quanto à expansão internacional e os últimos cinco anos; revisão narrativa de suas bases empíricas, quatro propostas teóricas e algumas críticas a elas; discussão de pressupostos, definições, conceitualizações, limites e dúvidas em aberto nas teorias; proposição de uma nova interpretação, avaliação final do conceito e da contribuição efetiva da área. Como conclusões, as teorias apresentadas são de cunho neuropsicológico, formuladas em torno de reutilizações neurais dos circuitos sensório-motores na cognição de forma automática e inconsciente. Portanto, “incorporada” não se refere diretamente ao corpo vivido, e sim à parte do cérebro correlacionada mas não equivalente a ele. Essa distinção tende a ser ignorada, assim como aquela entre ativação cerebral e processo cognitivo em si. Preservando-se dos pressupostos materialistas reducionistas, bem como dos empiristas radicais de alguns autores, permanecem dúvidas quanto ao significado, função, extensão e relevância psicológica das reutilizações neurais. Propõe-se que uma interpretação mais cognitiva, aplicável a contribuições prévias sobre mecanismos da CI, é assumir a existência de memórias sensório-motoras implícitas associadas de diferentes formas a representações mentais de objetos, pessoas, situações, eventos, conceitos, entre outras, e também a estados subjetivos incluindo afetividade e motivação. Tais memórias implícitas mediariam as disposições para manifestações corporais geradas por atividades cognitivas em curso, assim como as disposições cognitivas, afetivas e motivacionais geradas por atividades corporais em curso, assim explicando as influências bidirecionais entre cognição e corpo. Enfim, observa-se que na perspectiva da CI moderada, os processos cognitivos em si são pouco ou nada alterados, sendo afetados sobretudo a partir dos estados em que ocorrem e dos conteúdos evocados. Assim, conclui-se contra a necessidade de ruptura com o Cognitivismo e de um novo conceito ou tipo de cognição, e a favor da CI como área de pesquisa que traz uma expansão do conhecimento prévio, revelando extensão e profundidade antes desconhecidas das interações cognitivo-corporais.