O êxito da vacinação de cães poderia reduzir significativamente a incidência de leishmaniose visceral (LV) zoonótica, entretanto, ainda são necessários estudos sobre a viabilidade da utilização de vacinas caninas na Saúde Pública no Brasil. Neste estudo foram avaliadas as duas vacinas comercializadas atualmente no Brasil segundo parâmetros de segurança e proteção contra infecção, e transmissão de parasitos por cães naturalmente expostos à infecção em área endêmica para leishmaniose visceral. Entre julho de 2010 e julho de 2012, 30 cães naturalmente infectados, domiciliados em áreas endêmicas para LV canina, foram selecionados para compor o grupo 1 (G1) e 100 cães saudáveis das mesmas áreas foram imunizados com as vacinas Leishmune®, grupo 2 (G2), ou Leish-Tec®, grupo 3 (G3). Os sinais clínicos pós-vacinais, sorologia e parasitismo esplênico foram monitorados durante o período vacinal, vinte e um dias, 3, 6 e 9 meses após a vacinação. A transmissão parasitária foi avaliada por xenodiagnóstico no 11º mês de monitoramento. Efeitos adversos como apatia, dor e edema local ocorreram em 2,5% (1/40) e 14,3% (6/42) dos animais do G2 e G3, respectivamente. Ocorreu um pico de resposta humoral para IgG aos 21 dias após a primeira dose da vacina no G2 e 21 dias após a segunda dose no G3; a taxa de soroconversão aos 11 meses foi de 27,8% no G2 e 30,8% no G3. Os animais do G2 apresentaram maiores níveis de subclasses IgG1 e IgG2 em comparação ao G3, com diferenças significativas (p=0,000) e pico de reatividade 21 dias após a terceira dose da vacina no G2 para ambas as subclasses. Os animais do G1 apresentaram maiores reatividades para IgG, IgG1 e IgG2 com diferenças significativas (p=0,000) quando comparados aos G2 e G3. Ao final do estudo, parasitismo esplênico foi detectado em 11,1% (4/36) dos animais do G2 e 8,8% (3/34) dos cães do G3. A transmissão de Leishmania dos cães aos flebotomíneos no ensaio xenodiagnóstico foi detectada em 36,6% (11/30), 2,9% (1/34) e 6,1% (2/33) dos animais do G1, G2 e G3, respectivamente. Não foram encontradas diferenças significativas quanto aos aspectos clínicos, parasitológicos, de soroconversão e transmissibilidade do parasito ao vetor entre os cães vacinados com as vacinas Leishmune® ou Leish-Tec®. Os animais vacinados com a Leishmune® apresentaram maiores níveis de resposta humoral de subclasses de IgG.