Anticoncepcionais para cadelas e gatas são vendidos livremente no comércio veterinário. Na cidade de Umuarama (PR) foram selecionadas empresas que comercializam estes produtos. Estas empresas foram visitadas por estudantes de Medicina Veterinária que se passaram por tutores de cadelas e gatas questionando a venda do fármaco. Sobre a maneira de utilização do medicamento nas 35 empresas visitadas, em 33 (33/35; 94,28%) os atendentes informaram como usar o fármaco. Apenas em uma empresa, o atendente informou sobre os riscos de administrar o produto (1/35; 2,85%). Em relação ao auxílio de um médico veterinário, em apenas uma empresa (1/35; 2,85%) o atendente pediu ajuda a este profissional. Inferiu-se que a maioria dos atendentes não informa os tutores de forma adequada quanto à utilização dos contraceptivos. Após analisar a conduta dos atendentes na forma de comercialização dos anticoncepcionais, foram entrevistados 175 tutores de cães e gatos estudantes na Universidade Paranaense, campus de Umuarama. Do total de tutores (175), 145 são tutores de cães. Quando questionados se já haviam utilizado anticoncepcional em seus animais, a maioria declarou nunca ter utilizado (136/145; 77,7%). No entanto, 21,1% dos tutores afirmaram já ter utilizado (37/175). Entre os tutores que já utilizaram anticoncepcionais em cadelas e gatas (37/175; 21,1%), a maioria fez uso do medicamento por indicação de pessoas leigas (64,86%; 24/37). A maioria dos tutores declarou que sabia que a anticoncepcional causa doenças nos animais (118/175; 67,4%). No entanto 31,4% (55/175) informaram que desconheciam o fato. Tais resultados demonstram que são necessárias campanhas educativas para tutores sobre guarda responsável. Outra etapa do trabalho foi realizada no Hospital Veterinário da Universidade Paranaense. Foram utilizadas 20 cadelas hígidas que nunca haviam recebido anticoncepcional. Tais fêmeas foram submetidas a exame clínico e laboratorial (hemograma, bioquímicos, citologia vaginal, ultrassonografia abdominal). Após o exame, foi administrado em todas as cadelas o anticoncepcional injetável por via subcutânea, obedecendo-se as indicações do fabricante. Após 30 dias e 90 dias, as fêmeas foram submetidas novamente aos mesmos exames citados. Aos 90 dias, as cadelas foram submetidas à ovariohisterectomia. Durante o procedimento, foram colhidos os ovários e úteros para exame histopatológicos. Foi possível verificar que, aos 30 dias, não houve alterações no hemograma e ultrassonografia abdominal. Porém, 12 cadelas (60%) apresentaram hiperplasia mamária e duas cadelas (10%) apresentaram reação cutânea no local da aplicação do fármaco. Aos 90 dias, observou-se que 18 cadelas (90%) apresentavam sinais de hiperplasia endometrial cística, sendo que destes animais, cinco (27,77%) apresentavam conteúdo de aspecto purulento no lúmen uterino. No exame microscópico, apenas uma fêmea não demonstrou alterações patológicas, sendo a única que recebeu o contraceptivo na fase correta (anestro), indicada pela bula. As demais fêmeas apresentaram alterações que variaram entre alterações circulatórias a hiperplasia endometrial cística grave. Assim, foi possível concluir que uma única aplicação de progestágenos em fêmeas hígidas pode causar complicações leves a graves, o que requer que sua administração seja realizada exclusivamente sob orientação de um profissional médico-veterinário, de forma a minimizar as chances de ocorrência destes danos.