Introdução: Entre as ações ou procedimentos que compõem a assistência ao parto,
a avaliação perineal e a decisão de preservar a integridade do períneo ou proceder a
episiotomia são temas polêmicos. Há falta de método que indique evidências a serem
avaliadas e critérios decisórios, o que gera desconforto profissional quanto a prática e
morbidade materna relacionada às lacerações no canal vaginal e região perineal. Usar
algoritmos, implementados em sistemas computacionais de apoio à decisão, pode
contribuir para a avaliação de múltiplas variáveis e sugerir trajetórias de ações mais
alinhadas a evidências científicas e segurança assistencial. Objetivo: Avaliar a
aplicabilidade de um algoritmo para apoiar decisões conscientes e seguras da
manutenção ou não da integridade perineal na assistência ao parto. Materiais e
Método: Pesquisa aplicada de desenvolvimento tecnológico. Foi construído um
algoritmo tendo por base informações relevantes adquiridas na literatura, validado por
profissionais. Para avaliar sua aplicabilidade em campo, o algoritmo foi utilizado como
base para a construção de um protótipo de “Sistema de Apoio à Decisão” (SAD) on-
line para dispositivos móveis. Após aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa,
realizou-se teste piloto. O algoritmo, embutido neste protótipo de SAD, foi utilizado por
dois meses, em 305 partos vaginais, por enfermeiros obstetras de um hospital público
da cidade São Paulo, preenchendo-se formulários de avaliação sobre a aplicabilidade
do sistema. Resultados: Dos doze profissionais participantes, dez recomendaram,
com certeza, o uso do SAD na avaliação perineal e dois tiveram dúvidas. Observou-
se que ocorreu concordância entre a sugestão do SAD e a decisão do profissional em
93,1% dos partos. Nos casos onde o profissional escolheu seguir as recomendações
do SAD, os resultados foram favoráveis à puérpera e ao recém-nascido. Quando o
profissional seguiu a recomendação do SAD, casos desfavoráveis à puérpera de
laceração de 2o ou 3o graus se mantiveram em 13,4%. Quando o profissional escolheu
não seguir a recomendação do sistema, esta frequência subiu para 28,6%. Quanto
aos casos desfavoráveis ao recém-nascido, como Apgar de 5° minuto inferior a 7, a
incidência foi de apenas 0,4% das ocorrências quando houve concordância entre a
decisão do profissional e a recomendação do SAD, porém esse índice subiu para 9,5%
quando o profissional não seguiu o recomendado. Verifica-se associação entre
divergências de conduta e número de eventos adversos (p=0,001). Quando houve
concordância de conduta entre a recomendação do SAD e a conduta profissional, a
incidência de eventos adversos foi de 33,3%. Já, nos casos onde houve divergência,
a incidência subiu para 66,7%. Desta forma, percebe-se que os eventos adversos
tenderam ser menores quando a recomendação do SAD foi acatada. Conclusão: O
algoritmo proposto, implementado em um protótipo móvel de SAD para avaliação
perineal, mostrou ser uma ferramenta aplicável e útil para nortear o profissional por
ocasião da assistência ao parto. Acredita-se que a continuidade deste estudo pode
levar a significativo aprimoramento e utilidade do algoritmo e de suas implementações
em Sistemas de Apoio à Decisão mais elaborados.