Rhipicephalus microplus causa quedas na produção e consequentes
prejuízos econômicos à pecuária. A resistência aos acaricidas e o risco da presença
de resíduos nos alimentos de origem animal têm impulsionado a busca por novas
alternativas de controle. Vários compostos vegetais possuem potencial
acaricida/repelente, porém, possuem limitações em sua aplicação. Nanocarreadores
podem proteger esses compostos, aumentar sua solubilidade aquosa e
biodisponibilidade, além de reduzir possíveis efeitos tóxicos. Dessa forma, o objetivo
desse estudo foi desenvolver formulações carrapaticidas a partir de Nanopartículas
Lipídicas Sólidas (NLS), Carreadores Lipídicos Nanoestruturados (CLN) e
Nanopartículas de Zeína (NZ), associados à cipermetrina, clorpirifós e um composto
vegetal (citral, mentol ou limoneno), caracterizar esses sistemas nanocarreadores e
verificar sua atuação contra larvas e fêmeas ingurgitadas de R. microplus. Nove
formulações foram desenvolvidas e caracterizadas por Dynamic Light Scattering
(DLS) e Nanoparticle Tracking Analysis (NTA). As formulações 1 (NLS+cip+clo+citral),
2 (NLS+cip+clo+mentol), 3 (NLS+cip+clo+limoneno), 4 (CLN+cip+clo+citral), 5
(CLN+cip+clo+mentol) e 6 (CLN+cip+clo+limoneno) obtiveram médias de diâmetro de
286 a 304 nm; polidispersão de 0,16 a 0,18; potencial zeta de -15,8 a -20 mV,
concentração de 3,37 ± 0,24 x 1013 a 5,44 ± 0,18 x 1013 partículas/mL; e Eficiência de
Encapsulação (EE) > 98,01% para todos os princípios ativos, enquanto, para os
mesmos parâmetros, as formulações de zeína NZ-1 (NZ+cip+clo+citral), NZ-2
(NZ+cip+clo+mentol) e NZ-3 (NZ+cip+clo+limoneno) obtiveram, respectivamente,
valores médios de: 282,18 a 290,64 nm; 0,24 a 0,25; -3,35 a -6,10 mV; e concentração
de 2,73 ± 2,67 x 1013 a 3,20 ± 3,03 x 1013 partículas/mL e EE > 96%. Todas as
formulações foram avaliadas quanto ao seu potencial acaricida e comparadas com
controles positivo (Colosso®) e negativos (água destilada; e nanopartículas sem
princípio ativo). Na avaliação das formulações de nanocarreadores lipídicos, pelo
Teste de Pacote de Larvas (TPL), os controles negativos não ocasionaram
mortalidade das larvas, enquanto o controle positivo, avaliado na concentração de
0,512 mg.mL-1, causou 100% de mortalidade. As formulações de NLS 1, 2, 3 e de CLN
4, 5 e 6 foram avaliadas de 0,004 a 0,466 mg.mL-1. Na concentração de 0,007
mg.mL-1 atingiram 90,4, 75,9, 93,8, 100, 95,1, 72,7 % de mortalidade. Com excessão
da 4, para a qual não foi possível determinar concentrações letais (CL), as
formulações 1, 2, 3, 5 e 6 resultaram em CL50 e CL90 de: 0,0033 e 0,0072; 0,0054 e
0,0092; 0,0040 e 0,0081; 0,0023 e 0,0054; 0,0055 e 0,0094 mg.mL-1, respectivamente.
Em relação às nanoformulações de zeína avaliadas pelo TPL, os controles negativos
também não ocasionaram mortalidade das larvas, entretanto, o controle positivo
(avaliado de 0,004 a 0,512 mg.mL-1), resultou em mortalidade de larvas > 71,9% na
concentração de 0,064 mg.mL-1, enquanto as formulações de zeína (avaliadas de
0,004 a 0,466 mg.mL-1) ocasionaram mortalidade > 80 % na concentração de 0,029
mg.mL-1. Essas formulações NZ-1 (NZ+cip+clo+citral), NZ-2 (NZ+cip+clo+mentol) e
NZ-3 (NZ+cip+clo+limoneno) ainda resultaram em altas taxas de mortalidade de
larvas em menores concentrações, com CL50 e CL90 de: 0,0136 e 0,0352; 0,0115 e
0,0386; 0,0117 e 0,0301 mg.mL-1, respectivamente, e 0,0319 e 0,1028 mg.mL-1,vi
respectivamente, para o controle positivo). As formulações de zeína foram também
avaliadas pelo Teste de Imersão de Adultos (TIA) e as formulações NZ-1, NZ-2 e
NZ-3 obtiveram, respectivamente: 50,2, 40,5 e 60,1% de eficácia sobre fêmeas
ingurgitadas na concentração de 0,466 mg.mL-1, enquanto o controle positivo resultou
em 39,4% de eficácia a 0,512 mg.mL-1. As formulações de zeína ainda apresentaram
uma alta atividade residual, embora menor do que a do controle positivo. Esse estudo
demonstrou que foi possível encapsular os princípios ativos priorizados e caracterizar
os sistemas carreadores. Todas as nanoformulações foram capazes de proteger os
princípios ativos contra a degradação em solução, o que é uma característica de
estabilidade visada para produtos carrapaticidas comerciais. Dessa forma,
nanoformulações podem ser uma alternativa para o desenvolvimento de novos
biocarrapaticidas com menor quantidade de princípios ativos, visando-se promover
um controle parasitário mais seguro, com menor risco de presença de resíduos nos
alimentos de origem animal e no ambiente.