A presente pesquisa emerge de inquietações acerca do processo de transformação das
políticas públicas educacionais frente à disseminação em larga escala do Modelo Escola da
Escolha, na última década, através de parceria público-privada com o Instituto de
Corresponsabilidade pela Educação (ICE). Diante da elaboração de nossa problemática,
objetivou-se “compreender em que consiste o Modelo de Escola da Escolha proposto pelo
empresariado ao disseminar consignas ideológicas no contexto da reestruturação produtiva do
capital”, assim, delimitou-se os objetivos específicos, a saber: 1) Identificar os aspectos
pedagógicos que constituem o modelo Escola da Escolha; 2) Analisar os nexos e contradições
expressos na compreensão dos indivíduos que vivenciam ou vivenciaram o Modelo de Escola
da Escolha; e 3) Identificar as consignas ideológicas mobilizadas no Modelo empresarial Escola
da Escolha. Com isso, se assume a abordagem de pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2008),
a filiação ao Materialismo Histórico Dialético (teoria e método) e a metodologia na Análise de
Conteúdo em Bardin (2004) com a técnica de análise categorial e temática. Os aspectos
pedagógicos do Modelo Escola da Escolha são instrumentalizados a partir de três elementos
integralizantes, a saber: 1) A visão de Homem e de Mundo no Art.2 da LDB (1996) e no Art. 3
CF (1988); 2) Finalidades da Educação no Relatório Educação Tesouro a Descobrir –
UNESCO; e 3) Alinhamento político e conceitual no Paradigma do Desenvolvimento Humano
do PNUD, nos Códigos da Modernidade e nas Mega-Habilidades do CLIE. Tais elementos
integralizantes se desdobram em aspectos pedagógicos transitórios e permanentes, os quais
materializam o projeto escolar e sua gestão, o currículo e a ampliação da jornada escolar. Os
aspectos transitórios e permanentes estão perpassados em princípios educativos: protagonismo,
4 pilares, pedagogia da presença e Educação interdimensional, que promovem no cotidiano a
formação para o consenso atrelado a uma gama de consignas que presam pela educação para
vida, valores morais, sonhos, projeto de vida, além da liderança, voluntariado,
empreendedorismo, etc. Ao decorrer do trabalho, adota-se o termo “nova pedagogia da
hegemonia” (o referido termo é tomado emprestado das sistematizações do Coletivo de Estudos
de Política Educacional [CNPq/FIOCRUZ-ESPSJV], da qual estive membro durante o percurso
do Mestrado em Educação), situando a Escola da Escolha como uma experiência do programa
da Terceira Via. Considera-se que a Escola da Escolha é um modelo pedagógico que reúne um
conjunto de elementos – teóricos, técnico-científicos, ético-políticos e operacionais – situados
na tríade pedagógica: conteúdo (o que ensinar); método (como ensinar); e gestão (como
organizar a estrutura e o funcionamento da comunidade educativa), a ponto de, na aparência,
ser progressista, e na essência, um revisionismo conservador social-democrata, que materializa
a ideologia do Programa neoliberal de Terceira Via, no qual se articula o incompatível:
mercado e justiça social, nesse caso, a conformação de uma sociedade de bem-estar social como
alternativa conservadora de formação do consenso e recuperação do ciclo produtivo de nova
base.