Introdução: O envelhecimento está associado a um marcado aumento das doenças crônicas não transmissíveis, que frequentemente coexistem e podem exercer influências entre si tanto na fisiopatologia quanto no tratamento. Evidências sugerem que o sistema modulador da dor e de controle da pressão arterial sistêmica tenham interligações.
Objetivo: Avaliar os efeitos da dor crônica moderada a intensa sobre os níveis de pressão arterial, em indivíduos longevos.
Método: Foram avaliados indivíduos de ambos os sexos, com 80 anos ou mais, funcionalmente independentes e cognitivamente preservados, participantes do estudo Longevos da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo. Todos foram submetidos a uma avaliação clínica completa. Para esta análise foram consideradas a pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), número de medicamentos anti-hipertensivos, além da presença, duração e intensidade de dor. A PA foi medida após 5 minutos de repouso na posição sentada, por duas vezes com o braço na altura do precórdio, sendo utilizada a média destas medidas. Foram considerados hipertensos todos os indivíduos que apresentassem a PAS maior ou igual a 140 mm Hg, ou PAD maior ou igual a 90 mm Hg ou estivessem em uso de qualquer medicamento anti-hipertensivo. Aqueles com sintoma de dor, a classificavam pela escala numérica verbal. Foram considerados portadores de dor crônica moderada a intensa os indivíduos que a classificavam com intensidade três ou mais, com duração de pelo menos três meses.
Resultados: A amostra final era composta por 191 sujeitos, sendo que a maioria era de indivíduos do sexo feminino (137), caucasóides (130) e eutróficos (112). Desta população, 169 (88,5%) eram hipertensos (controlados ou não) e 22 normotensos. Dentre os hipertensos, 39 (23,0%) apresentavam dor crônica. O grupo de hipertensos era semelhante ao de normotensos quanto ao sexo, idade, tabagismo, presença de dor crônica, diagnóstico de caidor e grau de funcionalidade. A maioria dos indivíduos hipertensos utilizava 2 (34,9%) ou 3 (30,8%) medicamentos. Os hipertensos do grupo com dor crônica utilizavam, em média, mais medicamentos anti-hipertensivos do que os hipertensos sem dor crônica (2,7 vs 2,2 p= 0,012). Não houve diferença estatisticamente significante nas médias da PAS ou da PAD, assim
como nos parâmetros sexo, idade, tabagismo e grau de funcionalidade, entre os indivíduos com dor e sem dor crônica.
Conclusão: A presença de dor crônica parece ter influência no controle da pressão arterial de indivíduos longevos hipertensos, visto que os indivíduos com dor crônica apresentavam níveis pressóricos semelhantes aos indivíduos sem dor crônica, porém utilizavam um número significativamente maior de medicamentos anti-hipertensivos.