Introdução: A Rede Cegonha surge em 2011, em oposição ao modelo hierárquico, médico centrado e hospitalocêntrico vigente e vem como proposta de reorganização da saúde materna e infantil, com o objetivo de promover ações para o enfrentamento das altas taxas de mortalidade destes segmentos e a formação de uma rede de proteção à mulher e à criança. O recrudescimento das mortes maternas, a alta utilização da cesariana, juntamente com procedimentos não mais recomendados pelas boas práticas do parto e nascimento, nos remetem à indagações sobre a estrutura, potências e fragilidades dessa rede, tendo o componente pré-natal como cenário de estudo. Objetivo: Investigar a compreensão e operacionalização da Rede Cegonha em uma Região de Saúde do Estado de São Paulo, a partir da percepção de usuárias e de profissionais de saúde, propondo ações que possam promover melhor enfrentamento dos problemas identificados. Método: O estudo qualitativo por meio de entrevistas individuais com 25 usuárias e quatro grupos focais com profissionais da saúde de três municípios de pequeno porte de uma região de saúde. Os dados coletados foram tratados utilizando a análise temática, cujas ideias foram organizadas em núcleos de sentido, com categorização e definição dos temas, de acordo com a análise de conteúdo, sendo a interpretação dos resultados articulada aos referenciais teóricos que fundamentam a Rede Cegonha nos seus aspectos teórico-científicos e melhores práticas. Resultados: As entrevistas constituíram quatro temas: acompanhamento do desenvolvimento da gestação; do ator que exerce o cuidado; ferramentas que promovem a sensação/percepção de segurança quanto ao parto; e, propostas das gestantes para mudanças das práticas na Rede Cegonha. Os grupos focais constituíram também quatro temas, tendo sido: conceitos expressos pelas equipes; o processo de trabalho e a prática em rede: o estado da arte; desafios das equipes; e, proposições das equipes. Considerações finais: Embora as ações da Rede Cegonha tenham sido observadas pelas usuárias com alguns apontamentos para melhoria, relatos contundentes de vulnerabilidade, pouca aproximação com os direitos de visita à maternidade e acompanhante para o parto, foram colhidos. Exceção feita a uma
gestante, o dispositivo do plano de parto segue desconhecido. As equipes apresentam alguma aproximação com os conceitos de rede de atenção e rede cegonha, porém também relatam carga de trabalho excessiva, subdimensionamento de profissionais, pouca participação na gestão da rede e do cuidado, e desejo de monitoramento das ações e capacitação. O plano de parto, utilizado como disparador de ações de educação em saúde e aliado às ferramentas da política de educação permanente e de humanização do SUS podem auxiliar na potencialização da produção da saúde.