Introdução: O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é uma condição que
afeta de 2 a 30% das vítimas de eventos traumáticos. Modelos animais de TEPT
baseados no condicionamento de medo ao contexto (CMC) induzem alterações
comportamentais persistentes que se assemelham a algumas observadas na
clínica. A ocitocina (OT) é um neuropeptídio envolvido na modulação do
comportamento social e reatividade neuroendócrina ao estresse, os quais
encontram-se alterados no TEPT. Objetivo: Caracterizar o comportamento social,
a variabilidade interindividual deste comportamento, a reatividade de corticosterona
(CORT) e o envolvimento do sistema ocitocinérgico nas alterações induzidas por
um protocolo de CMC. Metodologia: No experimento I, ratos Wistar machos foram
submetidos a um protocolo de CMC (dia 0), que consistiu na exposição a um
contexto neutro durante 2 min, após o qual os animais receberam um choque nas
patas de 2 mA por 1 segundo (grupo Estresse, EST, n = 63) ou foram retirados do
ambiente sem aplicação de choque (grupo Não-Choque, NS, n = 11). Quinze dias
depois, os animais foram reexpostos ao contexto para avaliação do tempo de
congelamento, que foi utilizado como parâmetro para subdividir o grupo EST em
três subgrupos: high responder (HR), intermediário e low responder (LR). No dia 22,
os grupos EST e NS, além de um grupo adicional de animais não-manipulados e
testados (NM-T, n = 10), foram submetidos ao teste de preferência social, realizado
em um aparelho dividido em três câmaras, em que foi apresentado um rato-alvo
(estímulo social) e um objeto (estímulo não-social), cada um em um compartimento
lateral. O tempo e frequência de comportamentos sociais e não-sociais foi utilizado
para avaliação da preferência e motivação social. No dia 24, os animais foram
submetidos ao teste de interação social, em que os animais testados e animaisalvo, ambos desconhecidos, podiam interagir livremente no ambiente do teste, de
modo a quantificar comportamentos sociais dos animais testados. Trinta minutos
após o fim do teste, os animais foram eutanasiados e foi coletado sangue do tronco
para quantificação de CORT. Um grupo adicional de 10 animais não-manipulados
e não-testados (grupo Homecage, HC) foi eutanasiado no mesmo dia e horário que
os animais testados para obtenção de valores basais de CORT. No experimento II,
os animais foram submetidos ao mesmo delineamento experimental, no entanto, 5
min antes do teste de interação social, metade dos animais do grupo EST (n = 30)
e NS (n = 20) foi tratada com um análogo de OT (acetato de carbetocina, CBT, 6,4
mg/kg i.p.), e a outra metade foi tratada com salina (SAL). Resultados: Em
comparação com animais NS, o grupo EST de modo geral apresentou menor
frequência de interação social e maior reatividade de CORT. Diferenças entre os
subgrupos foram observadas somente na exploração vertical, com déficit do grupo
HR em comparação com NS. Não foi observado efeito da carbetocina sobre o
comportamento social dos animais EST. Conclusão: O protocolo de CMC utilizado
induziu variabilidade interindividual quanto ao comportamento de medo no contexto
do choque e exploração não-social, além de induzir déficits no comportamento
social avaliado no teste de interação social, e maior reatividade de CORT a este
teste. No entanto, as alterações no comportamento social não foram revertidas com
o tratamento agudo com um análogo da OT.