Este estudo objetivou analisar como se comportaram discursivamente, durante o julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, as mulheres que compunham o Senado Federal, instância responsável por julgar o impedimento dos presidentes da República. Para isso, buscou-se identificar, nas manifestações orais no ambiente do plenário, naquele período, indícios que permitissem encontrar a condução dos sentidos para reforçar a existência da desigualdade entre homens e mulheres, sobretudo na política. Outra premissa era que os pronunciamentos dessas mulheres poderiam ser capazes de convencer, até o ponto de influenciar, para alterar a decisão dos outros senadores no resultado do processo. Para tanto, utilizou-se a metodologia das escolas de Análise de Discurso (AD), de linha francesa e da Análise Crítica do Discurso (ACD). As 13 mulheres que julgaram Dilma Rousseff foram distribuídas em espectros ideológicos com vistas a observar se os discursos proferidos estavam coerentes com o posicionamento político. Também se investigou o lugar de fala, as estratégias retóricas e as estruturas dos pronunciamentos dessas parlamentares que, dadas as condições de acesso à arena política, por si só já podem ser consideradas exceção num ambiente tradicionalmente masculino. A escassez de estudos dos discursos construídos durante o processo de impeachment, sobretudo das mulheres detentoras de mandato, justifica a presente pesquisa. Outro mérito de investigações desta natureza é que, ao derramar luz sobre como elas retratavam, por meio de suas manifestações orais, a maneira como viam a si mesmas, as outras mulheres e, principalmente, a única mulher a chegar ao cargo de presidente da República, é possível contribuir na compreensão de como se construíram identidades discursivas femininas na prática específica do impeachment. Além de observar a existência de discursos inerentes aos espectros ideológicos e aos lugares de fala, encontrou-se que a repetição, como estratégia retórica, não surtiu efeitos e que era possível uma disputa discursiva pela presunção da verdade. Conclui-se, pelas análises, que o posicionamento político e discursivo nem sempre coincidiu com o espectro ideológico e que, a depender desse espectro, o discurso da desigualdade entre homens e mulheres, principalmente na arena política, foi valorizado ou ignorado pelas senadoras.