As abelhas africanizadas (Apis mellifera L.) possuem elevado comportamento enxameatório e alta capacidade de adaptação, características que permitiram sua rápida propagação nas condições tropicais, no entanto, estas vêm gerando problemas nas cidades brasileiras devido ao elevado risco de acidentes com pessoas e animais, uma vez que apresentam um forte instinto defensivo. Este trabalho foi realizado na Universidade Federal Rural do Semi-Árido
e teve como objetivo, avaliar as características de enxames silvestres de abelhas africanizadas em Mossoró-RN, com intuito de obter uma melhor compreensão da biologia dessas abelhas em áreas urbanas, entendendo os possíveis fatores envolvidos no processo de nidificação e enxameação nas cidades da região semiárida do Nordeste do Brasil. Para isso, por meio de uma parceria entre a UFERSA e a Corporação de Bombeiros Militar de Mossoró, 487 enxames foram notificados, oriundos de solicitações feitas pela comunidade local durante o período de abril de 2015 a março de 2018. A cada ocorrência, diversas informações sobre os enxames eram registrados como: data, endereço, altura e estrutura do local onde as abelhas estavam alojadas, ocorrência ou não de nidificação, posição de
construção dos favos, estimativa do tamanho populacional do enxame, defensividade das abelhas e presença de rainha, realeiras, zangões e cria de zangões. Dados de precipitação pluviométrica, temperatura do ar, umidade relativa do ar, radiação solar e velocidade do vento foram obtidos com intuito de avaliar o efeito das variáveis climáticas sobre a enxameação e os aspectos reprodutivos dos enxames. Os resultados obtidos neste trabalho
mostraram que em zona urbana do semiárido nordestino, os enxames investiram em reprodução e enxameação durante o ano inteiro, contudo, a criação de rainhas e de zangões foi intensificada na estação chuvosa, enquanto o pico de enxameação ocorreu entre o final da estação chuvosa e início da estação seca. A criação de realeiras e zangões nas colônias foram afetadas negativamente nos períodos de maior temperatura, radiação solar e velocidade do vento. Os enxames ocuparam uma enorme quantidade de estruturas e a maioria foram encontrados em locais abertos (enxame exposto), contudo, nos locais fechados (enxame protegido) houve maior predominância de colônias estabelecidas do que enxames não instalados ou provisórios. As abelhas demonstraram preferência por locais
com altura menor que 4 metros e também priorizaram a construção de seus favos orientados direcionalmente no sentido leste/oeste. Em Mossoró-RN a maior frequência de enxames ocorre entre abril e setembro e a menor frequência entre outubro e março. Não houve diferença de frequência de enxames entre os períodos de chuvas e secas. Os enxames geralmente apresentavam-se com população de até 20 mil abelhas e com comportamento de baixa defensividade. Concluímos que as produções naturais de rainhas e zangões nas colônias são influenciadas pelas condições ambientais do Semiárido Brasileiro e que as abelhas africanizadas realizam o pico de enxameação reprodutiva nas zonas urbanas no período do ano em que há maior disponibilidade de flores na região e quando a média de temperatura ambiental está amena. Isto nos leva crer que exista um ajuste comportamental das abelhas A. mellifera às condições climáticas da região, evitando condições adversas do clima local. Além disso, constatamos que, apesar de serem generalistas, as abelhas africanizadas apresentam maior grau de exigência quando procuram um sítio para construção do ninho, ao invés de um local provisório apenas para pouso e descanso. Por outro lado, as abelhas escolhem alturas que as protejam dos ventos mais fortes, porém sem deixá-las vulneráveis à ação de inimigos naturais. Concluímos também que os enxames pequenos de abelhas africanizadas (até 20 mil abelhas) são pouco defensivos e que esta baixa defensividade se deva também ao adequado manejo dos enxames (uso de equipamentos apícolas e EPIs) o que facilita o trabalho de resgate das abelhas em locais populosos, tornando possível realizar capturas em áreas urbanas de forma mais segura.