Esta pesquisa analisa a constituição do sujeito quilombola em enunciados do Jornal O Estado do Maranhão. Oprincipal objetivo é descrever e interpretar omodo de enunciar (FOUCAULT,2008a) o sujeito quilombola na instância midiática. Além disso, estabeleceremosrelação entre as discussões de Almeida (2006; 2008a; 2008b), Arruti (2003), Assunção (2012), Moura (1992) e O’Dwyer e Carvalho (2002), que fornecem uma abordagem historiográfica, sociológica e antropológica acerca do quilombo; a instânciada lei, a partir do artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), da Constituição Federal brasileira de 1988, que garante a posse de terras aos remanescentes de quilombo que as ocupem, bem como os Decretos, Portarias e Instruções Normativas que regulamentam esse procedimento; e também coma perspectiva dos habitantes da comunidade quilombola Jamary dos Pretos, localizada na cidade de Turiaçu, estado do Maranhão (MA), a partir da análise de duas letras de música produzidas por eles: uma composta para o aniversário de 170 anos da comunidade,em 2011,e outrada manifestação cultural chamada “tambor de crioula”, quetambém homenageia a comunidade, bem como de entrevista com um morador dessa comunidade e de outras. A ancoragem teórica para nossa pesquisa é a arqueogenealogia de Michel Foucault. Nesse arsenalteórico, a genealogia é compreendida como uma instância em que se confrontam o saber erudito, tido como aquele que goza de reconhecimento e statuscientífico, e o saber dominado, entendido como um saber menor diante da pretensão de verdade e cientificidade do saber erudito, e a arqueologia é concebida como um método de análise das discursividades locais(FOUCAULT, 2013b). Os enunciados do jornal que analisamos foram organizados a partirdasregularidadesentre três escolhas temáticas mobilizadas para discursivisar o sujeito quilombola, a saber: Comemoraçãoda liberdade e luta pelaconsciência negra; O sujeito quilombola e o Centro de Lançamento de Alcântara; Lutas por reconhecimentoe conquista de direitos sociais: a governamentalização dossujeitosquilombolas. Concluímos que a discursivização do sujeito quilombola no jornal O Estado do Maranhãosofre movências,que vão de um fenômeno do passado distantea um entrave ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do país, pois habita um território em disputapara a construção e expansão da base espacial de Alcântara (MA), devendo, com isso, deslocar-se dos lugares onde guarda suas histórias.Esse sujeito também emerge como um cidadão de direito, mas que precisa ser classificado e distinguido dos demais para ter acesso a direitos sociais.Nesse sentido, nas três séries enunciativas aqui recortadas, o jornal expõe as diversaslutasdo sujeito quilombola com o sistema capitalista.