O uso de pastos mistos de gramíneas e leguminosas tem sido uma alternativa promissora, permitindo a entrada de nitrogênio através da fixação biológica. O capim Marandu (Brachiaria brizantha [syn. Uruchloa brizantha] cv. Marandu [Hochst. ex A. Rich.] Stapf), gramínea hábito de crescimento ereto e mecanismo de propagação clonal, e o amendoim forrageiro (Arachis pintoi Krapov. & W.C. Greg.), leguminosa estolonífera, também com o mesmo mecanismo de propagação, são opções de genótipos com potencial para serem compatíveis em misturas. As descrições da estrutura do dossel em pastagens mistas são essenciais para entender os processos de desenvolvimento e competição entre plantas. Assim, o estudo da ecologia em pastagens mistas pode ancorar estratégias favoráveis à estabilidade do dossel. O estudo objetivou avaliar a variabilidade espacial das características estruturais e morfogênicas e a ecologia das plantas em dossel misto de capim Marandu com amendoim forrageiro submetido à herbivoria por bovinos de corte sob lotação contínua. A pastagem (1 ha) foi manejada para manter a altura média do dossel entre 20 - 25 cm durante a estação chuvosa. Foram utilizadas novilhas Nelore com 214 ± 17 kg de peso corporal e 11 ± 3 meses de idade. Uma grade amostral foi permanentemente estabelecida na área com 50 pontos georreferenciados, em torno dos quais as avaliações foram realizadas. Foram avaliadas a estrutura do dossel (alturas média e máxima do dossel e da leguminosa, biomassa, densidades populacionais de perfilhos e estolões, zona de sombra, interceptação luminosa [IL], índice de área foliar [IAF] e composição botânica), bem como a morfogênese (taxas de aparecimento, alongamento e senescência das folhas, e taxas de alongamento de colmo e estolão) e estrutura morfológica (comprimentos de folha e colmo [gramínea], área foliar e comprimentos de pecíolo, entrenó e estolão [leguminosa]). A interpolação dos dados amostrados, separadamente em cada estação, foi realizada por krigagem ordinária. Os coeficientes de correlação de Pearson entre a altura do dossel e as demais variáveis foram calculados. Foi observada dependência espacial em todas as variáveis. No entanto, para algumas variáveis, não foi detectada autocorrelação espacial durante algumas estações. O modelo esférico foi o que melhor explicou o comportamento dos semivariogramas. Variações na altura do dossel influenciaram as características estruturais e morfogênicas, em que a competição pela luz causou estiolamento da leguminosa (maiores comprimentos de pecíolo, entrenó e estolão) em regiões com maior altura do dossel. O amendoim forrageiro mudou sua direção de crescimento quando submetido a maior sombreamento, desenvolvendo-se perpendicularmente ao solo. A densidade de perfilhos da gramínea respondeu positiva e linearmente às variações da altura do dossel. Em regiões de menor altura do dossel, a leguminosa proliferou próximo à superfície do solo, aumentando sua densidade de estolão e biomassa, mesmo nas regiões extremamente baixas. Apesar dessas variações, a estrutura do dossel tendeu a se homogeneizar ao longo do tempo. Os resultados apontam que a comunidade de plantas é afetada pelas variações da altura do dossel no espaço. Dosséis mais altos causam competição por luz entre as plantas. Nessas condições, a gramínea foi favorecida, diferentemente da leguminosa, que teve sua proporção reduzida. Já em locais de dossel mais baixo, a leguminosa é beneficiada, sendo estimulada a se desenvolver mais efetivamente por propagação clonal.