A hérnia é considerada um dos defeitos congênitos mais comuns encontrados em suínos. As mais observadas são escrotais (HE), inguinais (HI) e umbilicais (HU). As hérnias causam prejuízo para a suinocultura mundial devido a redução da eficiência produtiva, além de afetar negativamente o bem-estar do animal. Vários estudos genômicos já foram conduzidos, porém, ainda não foi possível identificar os genes responsáveis pela formação das hérnias em suínos, dificultando a seleção contra essas características. Dessa forma, buscou-se comparar o perfil de expressão dos transcriptomas relacionados às hérnias escrotal e umbilical e identificar genes candidatos aos dois tipos de hérnia, utilizando análises de RNA-Seq. Coletaram-se amostras biológicas de anel inguinal e umbilical de suínos com HE, HU e livres destes defeitos, as quais passaram pela extração do RNA. Após, foram preparadas bibliotecas de cDNA e estas sequenciadas na plataforma Illumina. As sequências passaram por análise de controle de qualidade e foram alinhadas e mapeadas contra o genoma de referência do suíno (Sus scrofa, v11.1). Posteriormente, foram identificados os genes expressos nos tecidos e os genes diferencialmente expressos (DE) quando comparados os grupos controle e afetados. O perfil de expressão dos transcriptomas relacionados à HE e HU foi comparado para identificar genes DE nos dois tipos de hérnia. Realizaram-se análises para a descoberta de polimorfismos nesses genes com posterior anotação daqueles encontrados para as duas hérnias estudadas. Em cada grupo, compararam-se os genes DE e foi verificado se estes estavam em regiões de QTL (Quantitative trait loci) já relatadas para suínos. Após comparação dos dois transcriptomas (HE e HU), observou-se que 94,91% dos genes encontrados estavam contidos em ambos os grupos. Quando comparadas amostras de animais afetados com aquelas de seus respectivos grupos controle, identificaram-se 627 genes DE para HE e 199 para HU, dos quais 35 genes estavam DE em ambos os grupos. Estes genes participam de 108 processos biológicos que envolvem desde o sistema imunológico até a organização celular. Dos genes DE em ambos os grupos, dois (ACAN e BCHE) estão em regiões de QTL já relatadas para hérnia escrotal. Considerou-se os genes MAP1LC3C, VIT, ACAN, ACER2, KCNMA1 e SYNPO2 candidatos ao surgimento dos dois tipos de defeito por apresentarem expressão equivalente em ambas as hérnias e participarem nos processos de adesão celular, organização do citoesqueleto, produção de colágeno, relaxamento muscular e autofagia. Identificaram-se 67 polimorfismos no tecido do anel inguinal e 76 no anel umbilical dos quais 11 e 14 são novos, respectivamente. Além disso, foi observada uma variante com função deletéria localizada no gene ITGAM, que participa do processo biológico de diferenciação celular ectodérmica. Considera-se que o perfil da expressão desses genes possa interferir no desenvolvimento normal do tecido, causar enfraquecimento e diminuir a resistência do local, podendo levar a formação de ambas as hérnias em suínos. Assim, avançou-se no conhecimento dos genes relacionados ao surgimento da HE e HU, contribuindo para a compreensão do mecanismo genético relacionado aos dois tipos de hérnia em suínos.