As Hepatites virais têm alta morbidade e mortalidade e representam um dos principais
desafios para a saúde pública mundial. Entre os agentes virais causadores de hepatites, o
Vírus da Hepatite E (HEV) é o único que contém genótipos com potencial zoonótico. No Rio
Grande do Sul (RS), a infecção pelo HEV é comum em criações não comerciais de suínos.
Estudos preliminares indicaram também uma alta prevalência de anticorpos anti-HEV em
voluntários doadores de sangue. Neste estudo, o objetivo foi determinar a prevalência de
anticorpos anti-HEV na população de três importantes municípios do RS (Caxias do Sul,
Passo Fundo e Santa Maria) e verificar a existência de portadores do HEV. Amostras de soro
sanguíneo (n = 1.000) foram obtidas aleatoriamente de laboratórios de análises clínicas de
cada um dos municípios, totalizando 3.000 amostras. A presença de anticorpos anti-HEV
(imunoglobulina G = IgG) foi analisada por meio de um teste ELISA indireto em todas as
amostras de soro; a presença do HEV foi investigada por meio da transcrição reversa e reação
em cadeia da polimerase em tempo real (RT-qPCR) em grupos de amostras (50 soros por
grupo, 20 grupos por município). A prevalência em cada município foi analisada
considerando-se o gênero e faixa etária. Em Caxias do Sul, a prevalência de anticorpos antiHEV foi de 58,2% entre as mulheres e 56,1% entre os homens. A presença de anticorpos antiHEV foi progressivamente maior e proporcional a faixa etária, sem diferenças em relação ao
gênero: 29,9% (0 a 20 anos); 48,3% (21 – 40 anos); 61,4% (41 – 60 anos) e 75,0% (acima de
60 anos). Em Passo Fundo, a prevalência de anticorpos anti-HEV foi maior em pessoas do
sexo masculino (67,2% em homens versus 64,2% em mulheres); em relação à faixa etária, a
soroprevalência observada seguiu o mesmo padrão, aumentando conforme a idade: 40,0% (0
a 20 anos); 55,3% (21 – 40 anos); 71,1% (41 – 60 anos) e 77,2% (acima de 60 anos). Em
Santa Maria, anticorpos anti-HEV foram mais prevalentes em homens (58,5%) do que
mulheres (53,4%) e seguiu o mesmo padrão em relação à faixa etária: 34,2% (0 a 20 anos);
47,8% (21 – 40 anos); 60,8% (41 – 60 anos) e 72,8% (acima de 60 anos). No geral,
desconsiderando-se gênero e faixa etária, a prevalência de anticorpos anti-HEV foi maior em
Passo Fundo (65,5%), seguido de Caxias do Sul (57,4%) e Santa Maria (55,4%). Todos os
grupos de amostras resultaram negativas na RT-qPCR. A alta prevalência de anticorpos antiHEV indica que o vírus está amplamente disseminado; a crescente prevalência de anticorpos
anti-HEV em relação à faixa indica que o vírus está continuadamente presente no ambiente e
ou alimentos e representa um desafio constante a saúde dos indivíduos. A ausência de
amostras positivas para o HEV na RT-qPCR, no entanto, indica que não havia amostras de
soro positivas para o HEV ou que havia amostras positivas, no entanto o limiar de detecção
do HEV na RT-qPCR está acima daquele possivelmente presente em um grupo de amostras.
De qualquer maneira, esse dado não diminui a importância dos nossos resultados; ao contrário,
corrobora nossos estudos prévios e reforça a tese de que o HEV é endêmico no RS.