A hanseníase é uma doença infectocontagiosa endêmica na Região Norte do Brasil, hiperendêmica no Estado do Tocantins e considerada um problema de saúde pública. Está relacionada a baixa escolaridade e condições socioeconômicas desfavoráveis, sendo mais frequente na raça negra e em indivíduos do gênero masculino. É causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que tem afinidade pela pele, nervos periféricos, olhos e mucosas. Dor e comprometimento ocular são achados comuns em pacientes hansenianos e são causas de estigmatização, isolamento e diminuição da qualidade de vida. Apesar disto, a avaliação oftalmológica e da dor não é realizada rotineiramente na abordagem destes pacientes. Este estudo possibilitou detectar a frequência de dor, dor neuropática, dor crônica, dor de intensidade severa e achados oftalmológicos em pacientes portadores de hanseníase. Trata-se de um estudo observacional transversal em que os pacientes hansenianos atendidos no Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins foram encaminhados para avaliação e coleta de dados no Hospital de Olhos do Tocantins, no período de setembro a novembro de 2019. Os dados foram coletados através de questionário, exame físico e pesquisa em prontuário. Neste estudo, 68,75% dos indivíduos eram do gênero masculino, 81,25% dos pacientes relataram renda até um salário mínimo, 68,75% relataram ser analfabetos ou ter ensino fundamental incompleto e 100% se autodeclararam da raça negra. Estes dados revelam alta frequência de hanseníase em indivíduos do gênero masculino, da raça negra e em situação de vulnerabilidade social. Foi observada alta frequência de achados oftalmológicos (100%), dor (87,5%), dor crônica (68,75%), dor neuropática (87,71%) e dor de intensidade severa (71,43%). Estes achados estão relacionados a um comprometimento importante da capacidade funcional destes pacientes. Existe um entendimento geral de associação de hanseníase com fenômenos sensitivos negativos, entretanto, dados deste estudo mostram que a dor é uma queixa frequente entre os pacientes hansenianos, assim como o comprometimento ocular ocorre em uma frequência alarmante. A maioria das alterações oftalmológicas em hanseníase podem ser evitadas. Elas prejudicam a independência do indivíduo e, quando somadas a outros distúrbios sensitivos e motores comuns no curso da doença, agravam ainda mais a qualidade de vida. Além disso, o diagnóstico tardio das lesões oftalmológicas pode resultar em quadros de cegueira. A avaliação oftalmológica e da dor como componente da abordagem multidisciplinar do paciente hanseniano colabora com a prevenção das incapacidades relacionadas à doença. Desta forma, sua inclusão na rotina de atendimento destes indivíduos contribui para a prevenção e controle destas sequelas. A região Norte e Amazônia Legal carece de estudos a respeito da ocorrência de dor e comprometimento ocular em hansenianos e, a alta frequência destes achados encontrada neste estudo, mostra a relevância destas alterações nestes pacientes. Esta pesquisa demonstra a necessidade da inclusão da avaliação oftalmológica e da dor nos hansenianos e novos estudos podem orientar medidas de saúde pública para prevenção e controle destas condições com alto poder incapacitante, e que muitas vezes são negligenciadas até mesmo pelos profissionais da saúde.