A ilha de Santa Catarina, localizada no setor Sudeste da zona costeira brasileira, possui características geomorfológicas marcadas pelo contraste entre terras altas e planícies, cujas feições deposicionais costeiras holocênicas nela presentes se constituem no objeto de estudo da presente pesquisa. Visando o entendimento da evolução costeira holocênica, procurou-se analisar em detalhe os depósitos sedimentares com base no mapeamento geológico superficial e na abordagem sistêmica aplicada à geomorfologia costeira, afim de se identificar os ambientes de sedimentação e os sistemas deposicionais ocorrentes, bem como, de que forma se desenvolveram e se correlacionam com os modelos evolutivos conhecidos para o setor Central da costa catarinense. O desenvolvimento sobre condições de estabilidade relativa do nível médio do mar ao longo do Holoceno superior consiste na hipótese principal de pesquisa, onde o comportamento evolutivo destes sistemas costeiros associaram-se aos padrões internos das células litorâneas, variações no balanço sedimentar e, principalmente, aos processos autogênicos associados com a retroalimentação da morfodinâmica costeira em virtude do preenchimento dos espaços de acomodação de sedimentos. Nestes termos, os resultados obtidos com o mapeamento geológico superficial apontaram a ocorrência de quinze unidades deposicionais distintas: depósitos transicionais – marinho praial, de baía, lagunar, lagunar praial, lacustre praial, eólico, fluviomarinho, fluviolagunar, fluviolacustre, fluviopaludial, paludial, estuarino e praiais atuais; depósitos antropogênicos – prototecnogênico e tecnogênico. De acordo com as fácies ambientais reconhecidas (30 ao todo), estes depósitos foram agrupados em oito ambientes de sedimentação: ambientes transicionais – litorâneo infrapraial, marinho praial, estuarino, eólico, pantanoso, lagunar e lacustre; ambientes antrópicos. Após a definição das unidades deposicionais e ambientes de sedimentação, passou-se ao ordenamento dos mesmos através da aplicação do conceito de sistemas deposicionais, empregando a Teoria Geral dos Sistemas em Geociências, o que resultou em quatro sistemas deposicionais: marinho raso (subsistemas de barreiras costeiras, terraços costeiros e praiais atuais), pantanoso-estuarino, aquoso lêntico (subsistemas lacustre e lagunar) e antropogênico. À estas avaliações, somaram-se os dados de datações geocronológicas disponíveis, além da abordagem com base no enfoque aloestratigráfico, que possibilitaram a apresentação de um modelo evolutivo baseado em nove estádios paleogeográficos: etapa inicial marcada pela fase transgressiva durante o Holoceno médio, com posterior fase de estabilização (Estádios 0 e 1, anterior a 5,8 ka AP); seguindo a uma etapa regressiva composta por fase de queda (Estádio 2a, entre 5,8 e 3,3 ka AP) e de estabilização do nível médio do mar (Estádio 2b, por volta de 3,3 ka AP); passando a uma etapa de estabilidade relativa do nível médio do mar (Estádio 3a e 3b, entre 3,3 e 2,1 ka AP); seguindo-se por nova fase regressiva (Estádios 4a e 4b, entre 2,1 e 0,2 ka AP); culminando com nova etapa caracterizada por ações antropogênicas e início de uma aparente nova fase transgressiva (Estádio 5, situação atual). Estes resultados encontram-se alinhados com o observado nas demais áreas de planície no setor Central da costa catarinense e confirmam as hipóteses de pesquisa.