Nesta pesquisa, que tem por tema os festivais da canção do Brasil e de Portugal,
dentro de um recorte cronológico delimitado entre 1964 e 1975, pretende-se evidenciar tudo
aquilo que, na música criada e produzida no contexto dos Festivais RTP e dos Festivais da
MPB, associa-se à “tradição” nacional e/ou corresponde à “modernidade”. A intenção, no
entanto, não é demonstrar apenas os momentos em que a “tradição” e a “modernidade” se
apresentam separadamente, mas também, e especialmente, aqueles nos quais estes elementos
se entrecruzam. Mais especificamente, procura-se demonstrar que as grandes composições
apresentadas nos festivais, ou seja, as canções mais simbólicas e representativas deste período
passam pelo crivo da “tradição” e da “modernidade”, ou, ao menos, passam por este
dualismo, entrelaçando esses componentes, o que produz novas formas, hibridizadas,
sincretizadas, de modo inovador e renovador para o cancioneiro destes países. Por meio de
um estudo de caso, que tem por intuito identificar possíveis hiatos existentes em um
determinado objeto a ser pesquisado, e de uma análise comparada, valendo-se de um método
relacional, que permite observar duas realidades distintas e, mais propriamente, suas
semelhanças e diferenças, esta pesquisa se dispõe a comprovar que a musicalidade surgida
nos festivais da canção origina uma “fórmula” que se caracteriza ao mesmo tempo como
moderna e tradicional. No Brasil, o resultado destes cruzamentos logo foi chamado de
Moderna Música Popular Brasileira, ganhando a sigla MMPB, depois MPB, vertente que se
consolidou e ainda hoje é sinônimo de “brasilidade” e representa o que se reconhece como
melhor na música brasileira. Em Portugal, as inovadoras canções apresentadas trouxeram a
“nova música portuguesa” para o palco dos festivais, alcançando maior projeção,
conquistando os portugueses e disputando o público europeu através do Festival Eurovisão, e,
mesmo não tendo configurado um gênero ou uma vertente musical específica, manteve todos
os requisitos para tanto e para a legítima representação de uma “portugalidade”, de uma
“identidade nacional portuguesa”. O objetivo desta pesquisa, portanto, é demonstrar que o
cruzamento entre a “tradição” e a “modernidade” foi o molde utilizado pelas canções mais
emblemáticas dos festivais, constituindo uma “fórmula” para a produção musical que se
tornou ponto de convergência na música popular destes países. As canções que levaram
consigo a “modernidade”, almejada por um público ansioso por novidades, mas também as
marcas da “tradição”, via de regra, estiveram entre as preferências do público-espectador,
apresentaram índices de maior vendagem, foram aclamadas pela crítica, apontadas como
inovadoras e renovadoras, ou mesmo se perpetuaram, sendo mimetizadas e servindo como
legado para as gerações seguintes