Introdução: A exclusão do ferro heme da dieta leva ao questionamento da possível
inadequação dos níveis desse mineral no organismo dos vegetarianos. A adoção de uma dieta
vegetariana está associada à redução da prevalência de diversas doenças crônicas não
transmissíveis. Esse fato pode ser explicado pelo menor IMC (índice de massa corporal),
assim como pela composição da dieta (distribuição equilibrada dos macronutrientes, menor
teor de gordura saturada, maior ingestão de antioxidantes e fibras). Porém, não é claro se o
ganho de peso acarreta alterações metabólicas diferentes nos vegetarianos, quando
comparados aos onívoros. Objetivos: Avaliar, comparativamente, o estado nutricional de
ferro em indivíduos vegetarianos e onívoros e verificar a influência do estado inflamatório no
diagnóstico da deficiência de ferro. Investigar se o ganho de peso corporal propicia alterações
metabólicas similares em vegetarianos e onívoros. Métodos: Foram avaliados 1340
indivíduos de 18 a 60 anos de idade, separados por sexo, dieta seguida, presença ou ausência
de menstruação e estado nutricional (IMC). Foram dosados os níveis séricos de hemoglobina
(Hb), ferritina, proteína C reativa ultrassensível (PCR-US), ALT (alanina aminotransferase),
AST (aspartato aminotransferase), Gama-GT (gamaglutamil transferase), glicemia de jejum,
insulinemia e hemoglobina glicada e foram calculados os valores de Homeostatic Model
Assessment (HOMA-IR). Resultados: Na população feminina (n=918), as onívoras tiveram
maior prevalência de obesidade e as veganas de baixo peso (p=0,0045). Na masculina
(n=422), a prevalência de obesidade foi maior nos onívoros (p=0,0001). A prevalência de
anemia foi maior em vegetarianas do que em onívoras, mediante perda de sangue menstrual
(p=0,0057) ou não (p=0,0124). Valores progressivos de IMC e de HOMA-IR se associaram
com elevação de ferritina, independente do hábito alimentar. Após serem excluídos da análise
os indivíduos com sobrepeso/obesidade e inflamação, a prevalência de deficiência de ferro foi
maior em vegetarianos do que onívoros, apenas mediante perda menstrual de sangue. Valores
progressivos de IMC levam ao aumento de diferentes marcadores bioquímicos, mas apenas a
relação do IMC com ALT foi dependente do hábito alimentar e observada exclusivamente em
mulheres que não menstruavam: esta foi menor em veganas (p = 0,0099). Na análise realizada
apenas com indivíduos obesos (IMC ³ 30 kg/m2), foram observadas menores concentrações
de GGT e ferritina em indivíduos vegetarianos do que em onívoros, independente de sexo e
perda menstrual de sangue (p £ 0,0395). Na avaliação dos níveis de HOMA-IR, observamos
maior elevação em homens do que em mulheres (p=0,0173), sem diferenças entre os tipos de
dietas. Conclusões: Apenas mulheres que menstruam parecem ter maior risco de deficiência
de ferro quando adotam uma dieta vegetariana. Nossos dados sugerem que tanto indivíduos
vegetarianos quanto onívoros podem apresentar alterações de parâmetros metabólicos frente
ao ganho de peso. Entretanto, na condição de obesidade, indivíduos vegetarianos parecem ser
protegidos do desenvolvimento das morbidades associadas ao excesso de peso, ao
apresentarem níveis comparativamente menos elevados de GGT e Ferritina.