A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença sistêmica crônica, na qual os
cães podem ser assintomáticos como também podem apresentar uma variedade
de sinais clínicos inespecíficos. As alterações nos exames laboratoriais são uma
manifestação importante na LVC e que, se não acompanhados, pode levar o
animal a morte. Alguns estudos já vêm mostrando que essas alterações podem
estar relacionadas as mudanças na produção e/ou diferenciação das diferentes
linhagens celulares na medula óssea, em consequência da infecção por
Leishmania sp. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar as alterações no
mielograma e quantificar a carga parasitária na medula óssea de cães
naturalmente infectados por Leishmania infantum e submetidos a tratamento
experimental. Para isso, foram utilizados 10 cães, adultos, que foram tratados por
30 dias com a associação de alopurinol (10mg/kg/BID) e domperidona
(1mg/kg/SID). As punções de medula óssea foram realizadas no dia zero e 30
dias após o início do tratamento, onde foram confeccionados esfregaços em
lâminas de vidro, fixadas e coradas para avaliação citológica. Para a qPCR a
medula óssea foi acondicionada em micrutubos com EDTA 3% para posterior
extração de DNA e quantificação. O mielograma dos animais revelou, no dia zero,
redução no número de metarrubrícitos, promielócito, mielócito neutrofílicos,
metamielócito neutrofílicos, bastonete neutrofílicos e megacariócitos, e aumento
no número de neutrófilos e macrófagos. No dia 30 foi observado redução no
número de metarrubrícitos, prorrubrícitos, promielócito, mielócito neutrofílicos,
metamielócito neutrofílicos, bastonete neutrofílicos, e megacariócitos. Observouse também aumento no número de neutrófilos, macrófagos e plasmócitos, além de
aumento discreto na relação mieloide:eritróide. Com relação as alterações
morfológicas, foi observado binucleação celular (2/10) e presença de mitoses
atípicas (2/10). Leucofagocitose foi observada em 20% (2/10) dos animais. Em
70% dos animais, formas amastigotas de Leishmania sp. foram visualizadas após
tratamento. A carga parasitária da medula óssea revelou que 54,5% dos animais
apresentaram diminuição da carga parasitária, enquanto 45,4% apresentaram
aumento na quantificação 30 dias após o tratamento. A quantificação média no dia
zero e no dia 30 foi de 4.424,82 e 16.673,2 parasitas/ L, respectivamente, mas
não houve diferença significativa entre os períodos estudados (p = 0,05). Com
esses resultados sugere-se que o mielograma não seja a melhor ferramenta para
o acompanhamento de cães com LVC quando se objetiva avaliar a resposta do
paciente num curto período de tratamento e que 30 dias de tratamento não é
suficiente para observar uma resposta parasitológica satisfatória, sendo
necessário um estudo de longo prazo para entender os possíveis mecanismos
associados a carga de parasitas da medula óssea durante o tratamento da
leishmaniose visceral canina.