O uso de uma diversidade de modos e signos representacionais possibilitado, sobretudo, pelas tecnologias digitais em nosso cotidiano tem possibilitado mudanças nas formas de comunicação, no tocante à dinamicidade da produção de informações e à facilidade da comunicação na sociedade contemporânea. Os recursos multimodais vêm sendo amplamente utilizados em nossas interações, tanto fora quanto dentro da escola e precisam ser interpretados e compreendidos de forma significativa. Tal realidade tem contribuído para o surgimento de novas discussões sobre a concepção de leitura e de múltiplos letramentos, no contexto de ensino-aprendizagem. Desse modo, essa pesquisa tem como objetivo investigar as concepções de professores dos anos iniciais sobre a relação entre o desenvolvimento do letramento multimodal crítico e a leitura do livro infantojuvenil “Dorinha, a pequena gigante”. Nossa base teórica está afiliada à teoria da semiótica social e aos conceitos básicos propostos pela abordagem da multimodalidade, com referência em Kress e van Leeuwen (1996); à Pedagogia dos Multiletramentos representada pelo Grupo de Nova Londres (1996); ao modelo Show me proposto por Callow (2006, 2008, 2013) e discutido por Silva (2016), cujas discussões estão centradas no desenvolvimento do letramento multimodal crítico com base em imagens, na sala de aula. A metodologia do nosso estudo está subsidiada pela abordagem qualitativa, caracterizada como intervenção pedagógica, de cunho descritiva e interpretativista quanto aos procedimentos de análise. O corpus dessa pesquisa é constituído pelas falas das professoras presentes no autorrelato e nas entrevistas de grupo focal. Com relação às nossas constatações, percebemos que, inicialmente as professoras, em sua maioria, abordam o ensino de leitura na perspectiva da linearidade, priorizando o texto escrito; compreendem o letramento como a capacidade de usar a leitura e a escrita aplicadas às práticas sociais; não demonstram reconhecer o potencial das imagens no processo comunicativo; não apresentam letramento visual crítico e nem reconhecem o conceito de (multi)letramentos que dê conta de ajudar as crianças na interação e construção de sentido, de maneira crítica, envolvendo a pluralidade de signos e a diversidade cultural presentes na sociedade contemporânea. Após a intervenção, as docentes demonstram melhor compreensão dos princípios da multimodalidade, dos multiletramentos, do letramento visual e de sua utilização nas atividades de leitura com textos multimodais para o desenvolvimento de habilidades de leitura na perspectiva crítica. No entanto, não foi possível constatar mudanças em suas práticas, devido à impossibilidade de observar suas aulas. Considerando a presença do livro infantojuvenil na sala de aula e sua riqueza em aspectos multimodais, defendemos a importância de propostas de atividades de leitura que explorem esses aspectos de forma significativa, e que contribuam para o desenvolvimento do letramento visual crítico. Além disso, percebemos a necessidade de investir na formação de professores que ajude a desenvolver habilidades de letramentos, possibilitando-os abordar a leitura de textosmultimodais na perspectiva crítica.