Introdução: Artemia salina (camarão de salmoura) é um microcrustáceo aquático utilizado para testes de ecotoxicidade. Isoterápicos (ou preparações homeopáticas feitas a partir do mesmo agente causador da doença) são comumente usados na clínica como recurso para atenuação de sintomas de intoxicações, contudo, pouco se sabe sobre seus efeitos em animais aquáticos. Dado que a poluição marinha é um dos problemas mais importantes deste século, a busca de soluções para reduzir seu impacto sobre sistemas vivos é tema de alto interesse. Nesse trabalho, a Artemia salina e o cloreto de mercúrio foram utilizados como modelo experimental para o estudo dos possíveis efeitos protetores do isoterápico de cloreto de mercúrio na intoxicação de animais aquáticos pelo mesmo sal. Objetivo: a) avaliar possíveis efeitos atenuadores da toxicidade ao cloreto de mercúrio pelos isoterápicos; b) avaliar a presença de mercúrio solúvel e insolúvel na água; c) avaliar possíveis interferências das fases da lua nos efeitos do tratamento sobre a eclosão de cistos, dado que a Artemia salina é um animal marinho e sujeito a tais oscilações. Métodos: Os isoterápicos (Mercurius corrosivus) foram preparados em água pura estéril, a partir de matrizes de cloreto de mercúrio homeopáticas, preparadas previamente em farmácia homeopática credenciada na ANVISA. Os tratamentos foram feitos em cego. Placas de cultura de 96 poços foram utilizadas para promover a eclosão de cistos de Artemia salina em água do mar artificial de maneira controlada. Cistos expostos a cloreto de mercúrio 39 µg/mL (concentração letal 10%) foram tratados durante 48 horas com as seguintes diluições (potências) de Mercurius corrosivus: 6 cH, 30 cH, 200 cH, para observação da taxa de eclosão. Os controles foram: cistos não desafiados, cistos desafiados e tratados com água pura, água pura sucussionada ou Ethilicum 1cH (veículo). Quatro séries de nove experimentos foram realizadas, sendo cada série executada em uma fase distinta da lua para averiguação de possíveis resultados falso-positivos. Fotomicrografias e vídeos de 13 segundos foram capturados de cada poço, após 24 e 48 horas, sendo os vídeos analisados pelo software Image J, plug-in Trackmate para quantificação da mobilidade dos náuplios nascidos. O número de náuplios e de cistos não eclodidos foi computado para o cálculo da taxa de eclosão. Análises físico-químicas (CV/AAS) e microscópicas (MEV / EDS) da água também foram feitas, para quantificação de mercúrio solúvel e precipitado, respectivamente. Os dados foram analisados por ANOVA de múltiplas vias seguida de Tukey, sendo p≤0,05. Resultados e conclusões: A fase da lua tem influência na velocidade da eclosão dos cistos, sendo esta mais precoce nas luas minguante e cheia. Embora os efeitos dos tratamentos tenham sido mais evidentes na lua cheia, não houve interação estatística entre fases da lua e tratamentos. Atraso significante (p<0,05) na eclosão dos cistos foi observado após tratamento com Mercurius corrosivus 30 cH, em relação aos controles igualmente intoxicados, independentemente da fase da lua, sugerindo melhor adaptação dos cistos ao ambiente hostil. Náuplios nascidos na lua cheia tratados com Mercurius corrosivus 200 cH ou Ethilicum 1cH apresentaram maior mobilidade. Todas as amostras de água colhidas na lua cheia e tratadas com preparações submetidas à agitação (sucussão), incluindo a água sucussionada e o Ethilicum 1cH, mostraram redução na concentração de mercúrio solúvel sem que houvesse precipitação de mercúrio insolúvel na água ou amostras biológicas, sugerindo ação facilitadora de nano e microbolhas na evaporação de mercúrio volátil. Os efeitos específicos do Mercurius corrosivus ainda necessitam de estudos futuros para esclarecimento de seus mecanismos, mas a deposição de oxigênio e carbono na superfície dos elementos orgânicos e o aumento de cloro nas partículas minerais em suspensão na água sugerem o envolvimento de processos relacionados à troca iônica.