Introdução: A violência contra a pessoa idosa caracteriza-se por um fenômeno
complexo que atinge os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, sendo um
problema social, político e de saúde, o qual acarreta prejuízo ao idoso além de graves
consequências para o desenvolvimento pleno e integral. Objetivo: Compreender o
contexto da violência contra o idoso no município de Marília. Métodos: Trata-se de
um estudo com desenho de métodos múltiplos, de análise quantitativa e qualitativa,
realizado em um município de médio porte do interior de São Paulo, com uma
população de 216.745 habitantes, da qual 13,6% são idosos, tendo como fonte de
dados: revisões da literatura, análise documental (boletim de ocorrência), entrevistas
e grupo focal. Para as duas revisões da literatura, sendo uma sobre o cuidado
prestado às vítimas e outra sobre o agressor, foram seguidos os passos da revisão
integrativa da literatura. Os dados quantitativos foram digitados em planilha eletrônica,
enquanto análises estatísticas foram realizadas com o software Statistical Package for
Social Sciences, versão 25.0.0.0. Análises Teste de Qui-quadrado de Perason e a
extensão do teste Exato de Fisher. Conclusões foram obtidas pelas análises
inferenciais com nível de significância igual a 5% (p≤0,050). A análise dos dados
qualitativos pautou-se na hermenêutica dialética, análise de conteúdo e na análise
temática. Após a análise dos dados, desenvolveu-se uma intervenção pautada no
modelo Calgary de avaliação e intervenção na Família. Resultados: A revisão da
literatura sobre a assistência ao idoso vítima de violência revela a falta de articulação
entre os setores responsáveis, de protocolos de assistência e de definição de fluxo e
organização, além do despreparo dos profissionais. Aborda ainda as características
dos agressores, mostrando que geralmente são os filhos da vítima, os quais, na
maioria das vezes, relataram arrependimento dos seus atos, sendo o fator
desagregador mais comum para tais atos: o uso de álcool e drogas, desemprego,
histórico de violência familiar, proximidades entre agressor e vítima e a dependência
financeira. Na análise dos boletins de ocorrência, encontrou-se o predomínio da
violência financeira em homens e, entre as mulheres, os outros tipos. Predominou no
estudo a cor da pele branca, aqueles que vivem com companheiro e a ocorrência deuse
no domicílio da vítima. Houve também predomínio de agressores do sexo
masculino. Na violência financeira, o perfil da vítima foi caracterizado: sexo masculino
(50,72%); faixa etária de 60 a 69 anos (56,6%) e que vivia com companheiro (48,33%).
A violência financeira contra o idoso é cometida principalmente por desconhecidos
(85,6%) dos casos e por familiares dos idosos (6,7%). As características
sociodemográficas da maioria dos agressores também eram desconhecidas.
Identificaram-se três núcleos de sentido referentes aos tipos de violência financeira:
apropriação e dano; exposição ao estelionato/extorsão e furto/roubo. Ao ser verificada
a percepção do idoso sobre a situação vivenciada, encontra-se sentimentos de
frustração, angustia, revolta e raiva. Apesar da denúncia de violência, o idoso tende a
não culpar seu agressor, que muitas vezes é um parente próximo, além de justificar o
comportamento agressivo ao correlacionar com más influências e até mesmo doenças
mentais como causa da agressão. No que se refere às vivências dos profissionais da
atenção básica em relação a violência contra o idoso, evidenciou-se que os profissionais suspeitam e identificam casos de violência física, financeira e,
principalmente, a de negligência, sendo o principal autor da agressão um membro da
família. Reconhecem que os idosos se encontram em contextos de vida complexos e
muitas situações estão além de suas capacidades de intervenção. Expressaram medo
e insegurança na realização da denúncia e desconhecem o papel dos demais
serviços, tornando a abordagem ainda mais complexa. As ações realizadas pelos
profissionais referem-se a encaminhamentos para outros serviços de atenção ao
idoso; direcionam cuidados aos idosos e familiares, essencialmente por meio de
notificação dos casos de agressão, acolhimento, conversa e reunião com familiares,
agendamento de consultas e visitas domiciliares. Sugeriram melhorar a articulação
interprofissional, estabelecer fluxos e serviços de referência ao idoso. No processo de
intervenção realizado a quatro famílias de idosos vítima de violência por meio do
modelo Calgary de avaliação familiar, verificou-se que os integrantes das famílias
apresentaram baixa escolaridade e dificuldades financeiras. Quanto a rede de suporte
social, destacam-se os vizinhos, a unidade de saúde e a Igreja. Considerações
finais: São necessários esforços conjuntos e articulações dos setores envolvidos na
assistência ao idoso vítima de violência, visando o melhor amparo dessa parcela da
população que passa por intenso sofrimento.