A terapia fotodinâmica tem como princípio a utilização de compostos orgânicos fotossensíveis
que ao serem irradiados pela luz, desencadeiam processos de oxidação celular. Desse modo, a
obtenção de compostos fotoativas capazes de promover morte em células tumorais é um alvo
potencial para o desenvolvimento de biomateriais inteligentes. Neste trabalho, foram
preparadas quatro porfirinas monofuncionalizadas com difenilalanina (FF) inéditas com
diferentes substituintes na posição meso, que foram avaliadas quanto a sua citotoxicidade por
meio ensaio de viabilidade celular, visando a aplicação na co-estruturação dos compostos
preparados com Fmoc-FF para formação de hidrogéis fotorresponsivos. Os compostos de
interesse (1-4) foram preparados com duas etapas principais, a ciclização do macroanel e a
funcionalização com o dipeptídeo. Um estudo de interação porfirina-FF/membrana foi realizado
utilizando lipossomos de DOPC (1,2-dioleoil-sn-glicero-3-fosfocolina), preparados pelo método
de extrusão. As membranas formadas foram tituladas com lipossomo híbrido formado pela
mistura 70:30 de DOPC e DOPE (1,2-dioleoil--3-fosfatidiletanolamina), e observou-se que a
interação dos lipossomos com as porfirinas funcionalizadas foi mais estabilizada, quando
comparadas a sua versão não funcionalizada. O tempo de vida das porfirina-FF foi aumentado
na presença das membranas. Os compostos preparados não apresentaram citotoxicidade sem
e com exposição a luz, e os resultados obtidos indicam que as porfirinas-FF possuem potencial
propriedade de proliferação celular, que foi observada também por microscopia de
fluorescência. Hidrogéis formados pela auto-organização de Fmoc-FF e porfirina-FF (0,5%, 5%,
10%, 20% e 30%), foram preparados em uma mistura H2O:DMSO (9,5:0,5) e caracterizadas por
UV/Vis, fluorescência, reologia e microscopia eletrônica de varredura (MEV). As propriedades
fotofísicas de 1 e 2 permaneceram inalteradas após a formação dos géis, o perfil reológico,
também não apresentou mudanças com a adição de porfirina-FF. Nas imagens de MEV
observou-se que as fibras de Fmoc-FF são alongadas, e a adição de 1 e 2 causou a formação de
ramificações nos fios. Os hidrogéis foram utilizados como matriz de adesão celular para HEK293,
e por microscopia de fluorescência observou-se que as células ficaram aderidas, e exposição por
10 minutos com lâmpada LED azul, indicou a ocorrência de indução à proliferação celular. Os
compostos 1-4 foram obtidos em rendimento global médio de 3%, foram caracterizados por
RMN (1H e 13C) e espectroscopia de absorbância e emissão. O estudo da interação entre a
porfirina/membrana demonstrou que a adição da porção peptídica levou a maior estabilidade e
a presença do lipossomo aumentou o tempo de vida dos compostos. Não foi observada
citotoxicidade em 1-4 para células HEK293, e os resultados têm fortes indicativos indução à
proliferação celular. Os hidrogéis preparados a partir de 1 e 2 co-estruturados com Fmoc-FF
preservam as propriedades óticas das porfirinas, e o aumento da concentração dos compostos
não impediu a hidrogelação do dipeptídeo. A superfície rugosa do hidrogel não dificultou a
adesão celular, e com microscopia de fluorescência foi possível notar que após exposição
luminosa, ocorreu aumento no crescimento celular. Esses resultados promissores indicam a
viabilidade de uso desses biomateriais como curativos fotorresponsivos, por exemplo.
Em um trabalho complementar foram preparados hidrogéis de Fmoc-FF e tetraporfirinas que
foram por caracterizadas por UV/Vis, fluorescência, reologia, MEV e a ressonância
paramagnética eletrônica (RPE) foi utilizada para avaliar a formação de oxigênio singleto. A
tetrafenilporfirina (TFP), tetracarboxiporfirina (TCP), tetrahidroxiporfirina (THP) e
tetrapiridilporfirina (TPyP) foram obtidas como subproduto da reação de ciclização e
caracterizadas por 1H-RMN. Os hidrogéis foram preparados com uma mistura solvente de
H2O:DMSO (9:1). Os hidrogéis preparados tiveram suas características fotofísicas preservadas e
a adição das tetraporfirinas não alterou as propriedades reológicas, nem a morfologia do
hidrogel. Foi possível observar a formação de 1O2 para os compostos TFP, TCP e THP (alta
concentração). E estudo comparativo com as tetraporfirinas em gel e solução, demonstraram
que o confinamento dos compostos causa uma modulação na formação de 1O2.