Severiano Mário Porto é um ícone da arquitetura brasileira. Eleito homem do ano pela revista francesa
L'Architecture d'Aujourd'hui, em 1987, desenvolveu na Amazônia uma obra com identidade própria,
utilizando recursos como integração e aproveitamento do potencial bioclimático local, concepção flexível,
otimização de custos, materiais renováveis e técnicas de mão de obra regional. Em bibliografias
consagradas da historiografia da arquitetura brasileira, a Região Amazônica é inserida no catálogo de
edificações modernistas do país, fazendo alusão ao trabalho de Porto, em Manaus/AM. Contudo, na capital
roraimense sua obra permanece pouco estudada. Lá, ele realizou projetos entre 1968 e 1977, em sua
maioria institucionais, participando de um importante momento do crescimento da cidade. Esta
dissertação tem como objetivo investigar o enfoque bioclimático dos projetos de Severiano Mário Porto,
em Boa Vista/RR, com especial análise do aproveitamento de iluminação natural, proteção solar e
ventilação. O método inclui levantamento documental, seleção de estudos de caso representativos e uso
de diagramas para avaliação preliminar de iluminação e ventilação naturais, seguidos de monitoramento
in loco para análise mais aprofundada da iluminação natural e opinião dos usuários. Por fim, foram
utilizadas simulações computacionais para aprofundamento do potencial de aproveitamento da iluminação
natural, em um estudo de caso representativo, considerando a concepção original do projeto. Os
resultados incluem a identificação de 14 edifícios, dos quais 3 estão parcialmente preservados e 1 em bom
estado de conservação. Os resultados relativos à análise com os diagramas evidenciam que as principais
estratégias bioclimáticas propostas pelo arquiteto em estudo para este clima local, são: forma das
edificações distribuídas em blocos, recortadas e pouco compactas; uso de átrios internos, otimizando o uso
de recursos passivos; cobertura com beirais robustos e avanços para sombreamento; esquadrias que
permitem várias possibilidades de iluminação e ventilação natural; e utilização de brise-soleil, cobogós,
beirais e marquises, pergolados e vegetação como elementos de proteção solar. O monitoramento in loco
revela problemas relativos as modificações feitas ao projeto original, que diminuem os níveis de iluminação
natural. A opinião dos usuários foi, em linhas gerais, de satisfação com o ambiente luminoso, embora
necessitando sempre do complemento da iluminação artificial e superestimando a aplicabilidade da luz
natural no ambiente de trabalho. As simulações computacionais, no entanto, ao representar o projeto
original sem as alterações feitas recentemente, evidenciaram bons índices de aproveitamento para a luz
natural. Ao relacionar os dados obtidos, foi possível concluir que os projetos de Severiano Mário Porto, em
Boa Vista/RR, apresentavam um bom nível de qualidade projetual em termos de iluminação natural e
proteção solar que é, na prática, desperdiçado pelas intervenções ocorridas no edifício.