Introdução: Em pacientes com diabetes mellitus (DM) existe uma íntima relação entre o mau controle glicêmico e o desenvolvimento de complicações micro e macrovasculares. Atualmente o método mais recomendado para reposição da deficiência de insulina endógena é o esquema basal/bolus, que pode ser feito através múltiplas doses diárias de insulina (MDI) ou do uso do sistema de infusão contínuo de insulina (SICI), que traz diversas vantagens ao paciente. Dispomos, no serviço de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo, de um ambulatório específico para pacientes usuários do SICI. Apesar de toda a estrutura de nosso ambulatório de SICI observamos que 47% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) estão com HbA1c > 8.5%, ou seja, 1 a 1.5% acima do alvo da glicemia para a idade a despeito do investimento na educação em DM, predispondo os mesmos a complicações agudas e crônicas. Objetivos: O objetivo principal deste estudo foi determinar quais são os fatores, apontados pelos pacientes com DM1 usuários do SICI, que estão contribuindo para o seu controle glicêmico insatisfatório (HbA1c >8.5%). O objetivo secundário foi analisar se existe relação entre estes fatores com características demográficas, tempo de diagnóstico da doença e tempo de uso do SICI. Métodos: Foi realizado um estudo transversal analítico estruturado na aplicação de questionário a pacientes com DM1 usuários de SICI, entre 10 a 26 anos de idade e com HbA1c acima de 8.5%. O estudo foi conduzido no Ambulatório de Bomba de Insulina do Centro de Diabetes da UNIFESP no período de 2017 a 2018. O questionário foi elaborado segundo a observação dos profissionais de saúde quanto às principais justificativas dos pacientes para não atingirem o controle glicêmico adequado, e é composto de 20 perguntas objetivas baseadas em quatro domínios de possíveis fatores interferentes no controle glicêmico: apoio do serviço de diabetes, características individuais, operacionalidade da bomba de insulina e o Sistema Único de Saúde (SUS) e permitia respostas conforme escala do tipo Likert de cinco pontos, com a seguinte graduação: "influencia totalmente", "influencia muito", "influencia moderadamente", "influencia pouco" e "não influencia” o controle glicêmico. Foram também coletados dados demográficos (idade e sexo), duração do DM e tempo de uso do SICI. Resultados: a maioria dos pacientes era do sexo feminino (58,3%), com mais de 5 anos de diagnóstico do DM (91,7%) e usuários da bomba de insulina por mais de 1 ano (87,5%). A idade média dos pacientes foi de 17,3± 5,0 anos, variando de 10 a 26 anos. Foram descritos como tendo influência (moderadamente, muito ou totalmente) na HbA1c > 8.5%: a falta de insumos (cateteres, cânulas, tiras reagentes, insulina) fornecidos pelo SUS (respectivamente 70,8% - questão 19; 62,5% - questão 18; 62,5% - questão 20); a necessidade de maior apoio psicológico (62,5% - questão 2); a dificuldade em fazer a glicemia capilar várias vezes ao dia (62,5% - questão 11); a dificuldade/aderência em inserir os dados de glicemia capilar e contagem de carboidratos no sistema de SICI (54,2% - questão 10) e a necessidade de maior apoio nutricional e de enfermagem (respectivamente 54,2% - questão 3 e 50% - questão 1). Não houve diferença estatisticamente significativa entre as respostas ao questionário e sexo, tempo de DM, uso da bomba de insulina e idade. Conclusão: O fornecimento irregular de insumos pelo sistema de saúde, a falta de um maior apoio psicológico para o convívio com a condição DM e o sistema atual de monitoração da glicemia foram os principais fatores apontados pelos usuários do SICI para não atingirem os alvos de bom controle glicêmico.