No presente trabalho foi realizado o teste da cristalização lacrimal (TCL) em
amostras de sessenta felinos domésticos hígidos e análise proteômica do fluido
lacrimal (FL) de doze felinos. O TCL é um teste oftálmico de caráter qualitativo,
visando avaliar a osmolaridade indireta do FL. Ainda não havia sido realizado em
amostras da espécie felina, mas, apesar de originalmente desenvolvido para a
espécie humana, já foi adaptado para cães, cavalos, macacos e camelos. Como
forma complementar, tem-se desenvolvido diferentes técnicas de análise
proteômica para avaliação do FL, visando identificação de proteínas que possam
ser utilizadas como biomarcadores para diagnóstico precoce, prognóstico,
desenvolvimento de novos fármacos, bem como para elucidar a fisiologia de
sistemas e fisiopatologia de alterações. Objetivou-se verificar o enquadramento
de amostras de felino nas escalas propostas para classificação do TCL de
humanos, e, descrever as proteínas encontradas no FL de indivíduos dessa
espécie. Para tal, as amostras de FL para TCL foram coletadas através do Teste
de Schirmer – 1 (TLS-1), e, as tiras logo após o teste foram acondicionadas em
microtubos e centrifugadas para obtenção da alíquota que era depositada em
uma lâmina microscópica de vidro, analisada através do microscópio de luz
polarizada, e registrada através de fotos. Enquanto as amostras para análise
proteômica também foram obtidas por TLS-1, acondicionadas em microtubos
que foram submetidos a centrifugação refrigerada a – 4ºC, porém a alíquota era
imediatamente congelada até posterior análise por espectrometria de massas
(EM) com gel bidimensional de poliacrilamida (2D-SDS-PAGE) associada a
cromatografia líquida de alta eficiência (ULPC). A cristalização de amostras de
felinos apresentou alta densidade de cristais, poucas lacunas entre os ramos, e,
grande quantidade de núcleos facilmente visíveis. Os ramos são finos e suas
ramificações primárias e secundárias bem definidas. Os tipos I e II da escala de
Rolando e os graus 1 e 2 da escala de Masmali foram os mais comumenteVII
observados (50%, 46,6%, 56,6% e 28,4%, respectivamente) das escalas
propostas. A distribuição normal não foi encontrada para as classificações
obtidas (P<0,001) bem como não foi observada diferença entre classificações
dos olhos direito e esquerdo (P≥0,102). Proteínas já descritas em estudos com
amostras de FL de outras espécies foram descritas pela primeira vez em felinos,
como: lactotransferrina, albumina sérica e lipocalinas alérgenas. Oito outras
proteínas foram descritas nas amostras de felinos e podem ser consideradas
inéditas em amostras de FL de todas as espécies, dentre elas estão: três
proteínas quinase dependentes da ciclina, o receptor de apelina, proteína
secretória relacionada ao C1q/TNF, aciltransferase, α-1,4 glucano fosforilase e
o domínio de repetição WD-1. O TCL pode ser considerado de boa aplicabilidade
em felinos como uma avaliação complementar da superfície ocular, e, a técnica
de proteômica escolhida superou as limitações relacionada ao pequeno volume
de amostra e apresentou alta sensibilidade na identificação de proteínas. Mais
estudos da aplicabilidade das escalas do TCL, bem como da expressão de
proteínas do FL de felinos são necessários e podem trazer no futuro grande
auxílio na prevenção, diagnóstico precoce, prognóstico, bem como tratamento
de doenças oftálmicas e até mesmo sistêmicas.