O projeto Vale Sonhar no Catavento Cultural e Educacional, inaugurado em 2009, é um trabalho diferenciado de prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis na adolescência, por se tratar de uma instalação educativa permanente em um museu de ciências e tecnologia. Baseada na metodologia psicodramática, a instalação Prevenindo a Gravidez Juvenil funciona como uma oficina interativa, na qual os adolescentes são colocados para protagonizar suas escolhas e verificar os impactos de uma gravidez não planejada e de uma doença sexualmente transmissível em seu projeto de vida profissional. A interface entre cultura, educação e saúde são propostas na oficina interativa permitindo ao adolescente um espaço para a percepção de sua vulnerabilidade e ampliando suas respostas em relação ao corpo, a suas escolhas reprodutivas e sexuais, ao seu olhar para a questão de gênero e para a diversidade. Com o objetivo de verificar como as vulnerabilidades social, individual e programática são percebidas e enfrentadas pelos próprios adolescentes diante da gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis, foi realizada uma pesquisa na instalação Prevenindo a Gravidez Juvenil de 15/05/2012 a 26/07/2012, acompanhando os grupos de adolescentes durante a última etapa da oficina, denominada compartilhar. Foram observados 24 grupos de adolescentes e jovens, entre 12 e 24 anos, totalizando 449 participantes. A etapa do compartilhar foi registrada em vídeo e submetida à transcrição e posteriormente à análise do discurso. Utilizou-se o método qualitativo pela dimensão que ele pode atingir nos processos sociais de determinados grupos e permite o estudo da história, das relações, das crenças, das percepções que as pessoas constroem sobre aspectos de sua vida cotidiana. O escopo analítico-descritivo permitiu trazer à luz a voz dos adolescentes expressando suas percepções acerca da vida sexual e permitiram que a pesquisadora lancasse mão do discurso do adolescente sobre sexualidade e prevenção para apreender as ideologias presentes nas relações cotidianas e no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos. Para a interpretação dos enunciados, a pesquisadora considerou as seguintes características de cada grupo procurando explicitar os modos de produção de sentidos utilizados pelos grupos: tipos de reações grupais, papel do educador, ideologias presentes nas produções de sentidos e paráfrases/metáforas. Para cada grupo foi produzido um corpus e uma ficha síntese. Depois de submetidos individualmente à análise, reagrupou-se a partir das faixas etárias semelhantes em 4 subgrupos para desvelar as semelhanças e diversidades dos discursos, as contribuições da técnica da análise mostraram que a mesma ideologia aparece de forma diferente no discurso de cada um dos grupos, afiliadas à sentidos mais ou menos passíveis de reflexão e problematização. Notou-se nos discursos dos adolescentes a submissão a uma norma inconsciente que remete a uma sexualidade perigosa, desigual no acesso ao prazer, assimétrica nos significados das escolhas reprodutivas, superficial no conhecimento e aprendizado sobre a intimidade e vulnerabilidade. A vulnerabilidade social apresentou-se como um dos fatores de maior dificuldade de ser confrontado nos grupos, por estar relacionado a uma filiação familiar e no grupo social. No entanto esse posicionamento interfere diretamente na exposição aos riscos por se constituir na não valorização e respeito do outro como sujeito de escolha. Não há um enfrentamento direto dessas tradições e assimetrias de gênero. O pouco confronto dessas ideologias nos leva a pensar que é necessário abrir mais espaços para que esses adolescentes pensem a respeito de suas construções ideológicas e sobre novas possibilidades de filiação a um discurso menos segregador/punitivo associado à sexualidade.