A discussão tratada na tese Fluxos Migratórios no Sul da Bahia: da Realidade Identitária do
Cacau à Realidade do Ensino Superior discorre sobre a reconfiguração identitária da região
denominada cacaueira a partir da década de 90 do século XX. Uma reconfiguração ainda se
constituindo, pois as investigações constatam a força ainda presente da economia e cultura do
cacau nos dias atuais. A descrição se passa em dois momentos: o primeiro, um contexto
vivenciado entre os anos 30 e 90 do século XX, tempo da formação da região cacaueira no sul
da Bahia, espaço que recebeu levas de migrantes para trabalhar nas roças de cacau que junto
com os residentes locais, desenvolveram uma cultura própria regional que foi além do cultivo
agrícola, com características que permanecem até os dias atuais, identificando o sul da Bahia;
e o segundo, que analisa a grave crise, a partir da década de 90, que se instalou, provocada
pelo fungo moniliophtora perniciosa, conhecido como vassoura de bruxa, que atingiu as
plantações de cacau. Essa crise sucedeu uma série de outras provocadas pelo clima, falta de
preço e escassez do produto, resultando em um impacto negativo para a economia regional
que se traduziu, no primeiro momento, em uma condição de decadência para os habitantes da
região, tanto os que viviam da lavoura como os demais, pois era o cacau que movimentava a
vida comercial e política regional. O segundo momento, a partir da década de 90, apresenta
uma região carente de alternativas e diversificação que alterassem a situação presente. A tese
aborda, então, o desenvolvimento da região através de outro viés: o ensino superior, pois, a
partir desse período, a região passou a contar com uma universidade estadual entre as cidades
de Ilhéus e Itabuna, um instituto federal de educação e algumas faculdades privadas, em
ambas as cidades, que passaram a absorver migrantes que trazem mão de obra qualificada de
várias partes do país, que, junto com os profissionais locais, alteram o panorama que até essa
época apresentava uma identidade versada apenas no cacau. Através da história oral, um
grupo de acadêmicos relata seu espaço de origem e a escolha pelo sul da Bahia, suas vivências
e as dificuldades nas cidades de Ilhéus e Itabuna, as interações com a cultura local e o
cotidiano da academia, evidenciando uma nova configuração cultural, que, de forma direta e
indireta, começa a estabelecer um polo de pesquisa e educação superior, ampliando uma
estrutura regional que, apesar de eternizada na cultura e na literatura como Região Cacaueira,
passa a abranger e a ser conhecida também pelo ensino superior.