A hiperglicemia gerada pelo diabetes mellitus promove alterações fisiológicas em todo o organismo, sendo recorrente o aparecimento de distúrbios gastrintestinais nos portadores desta doença, devido ao dano ao plexo mioentérico. Além do diabetes, sabe-se que há uma relação entre o uso do tabaco e dislipidemia no sistema digestório, porém, ainda há uma lacuna no conhecimento sobre possíveis alterações nos neurônios entéricos. Algumas plantas medicinais são apontadas como terapias complementares no tratamento de doenças gastrointestinais, dentre elas, a Baccharis trimera, que possui em sua composição antioxidantes, que podem exercer efeito neuroprotetor nos neurônios do plexo mioentérico. O objetivo do presente estudo foi avaliar o possível efeito protetor da B. trimera, popularmente conhecida como carqueja, sobre os neurônios mioentéricos, perfil lipídico e glicêmico de ratos expostos ao modelo experimental com a indução do diabetes mellitus, dislipidemia e o tabagismo. Ratos machos, Wistar, com 90 dias, foram divididos em cinco grupos (n=5), (C-) animais normoglicêmicos, não dislipidêmicos e não tabagistas tratados com veículo (água filtrada), (C+) diabético, dislipidêmico e tabagista tratados com veículo (água filtrada) e animais diabéticos, dislipidêmicos e tabagistas tratados com diferentes doses de carqueja (BT30mg/kg, BT100mg/kg e BT300mg/kg). A indução do diabetes foi realizada via intraperitoneal, com 60mg/kg de estreptozotocina, a dislipidemia, pela adição de 0,5% de colesterol em ração comercial e posteriormente, expostos a inalação de fumaça de nove cigarros comerciais, uma vez por dia, cinco dias por semana, durante quatro semanas. Após 2 semanas, iniciou-se o tratamento com diferentes doses da fração solúvel em etanol de carqueja, via oral por gavagem, uma vez ao dia, por duas semanas em diferentes doses. Foi coletado sangue do plexo ocular dos animais para posteriormente verificar os níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos. No intuito de quantificar a população de neurônios mioentéricos, foram realizadas as técnicas de coloração básica Giemsa, a fim de marcar a população total e a histoquímica da NADPH-diaforase, que permitiu quantificar os neurônios da subpopulação inibitória. Os animais dos grupos tratados com as diferentes doses de carqueja e C+ apresentaram redução de peso significativa. Na dose de 30mg/kg os níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos foram reduzidos, porém, não houve redução da glicemia nos ratos tratados com B. trimera. Não foi observada redução neuronal significativa entre os neurônios nitrérgicos, identificados pela técnica NADPH-diaforase, contudo, pelo método de Giemsa, foi observada redução do número de neurônios, dos grupos controle positivo (C+) e os grupos tratados com carqueja (BT30, BT100 e BT300), em relação ao grupo controle negativo (C-), o que pode ter sido agravado pela inclusão do tabagismo ou da dieta hipercolesterolêmica. Assim pode-se concluir que na dose de 30mg/kg de carqueja houve redução significativa nos níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos, contudo, não foi encontrada redução glicêmica em nenhum dos tratamentos. Quanto aos neurônios mioentéricos a carqueja não apresentou efeitos protetores com redução significativa na quantificação da população total, e a manutenção da subpopulação nitrérgica em todos os grupos, nos permite sugerir que estes neurônios são mais resistentes aos efeitos deletérios do diabetes, tabagismo e dieta hipercolesterolêmica.