Esta dissertação de mestrado tem como objetivo investigar dificuldades na aquisição de
espanhol (E) por aprendizes brasileiros em relação ao uso dos tempos compostos do modo
subjuntivo (MS) nas orações subordinadas substantivas. Durante esse processo de
aquisição, sentenças agramaticais utilizando o modo indicativo (MI) e tempos simples do
MS são construídas por aprendizes brasileiros na expressão de significados que se dão
apenas por meio dos tempos compostos do MS em E. Essas dificuldades, assim como as
sentenças agramaticais produzidas devido a elas, podem indicar a relação entre o input ao
qual o aprendiz é exposto e o desenvolvimento da segunda língua (L2). Os objetos de
investigação deste trabalho são o pretérito perfecto de subjuntivo e o pretérito
pluscuamperfecto de subjuntivo nas orações substantivas. Tendo ciência de que as
representações das propriedades sintáticas, semânticas e morfológicas podem dar-se de
formas distintas na língua nativa (L1) e na L2, são levantadas as seguintes perguntas:
A. As incompatibilidades entre o português brasileiro (PB) e o E encontram-se nos traços
morfossintáticos e semânticos de tempo, aspecto e modo das orações subordinadas
substantivas que se manifestam distintamente nas duas línguas?
B. As sentenças agramaticais produzidas devem-se à reordenação dos traços no processo
de aquisição de segunda língua (AL2)?
Dessa maneira, parto da hipótese gerativa de que nascemos dotados da faculdade da
linguagem, vinculada ao conceito de Gramática Universal (GU) (CHOMSKY, 1981;
1986). A esse conceito, relaciono os estudos sobre AL2 (WHITE, 1989; 2003a; 2003b),
sobre o MS (PALMER, 2001) e como o modo é adquirido na aquisição de E como L2
(GUDMESTAD, 2006, MONTRUL, 2004). Ainda, estabeleço a relação entre o processo
de AL2 e a hipótese da reordenação dos traços (LARDIERE, 2008; 2009; 2012,
STRINGER, 2012) e descrevo os traços morfossintáticos e semânticos envolvidos na
seleção do MS em PB e em E. Como metodologia, foram aplicados testes de produção
provocada com exercícios que requeiram, não explicitamente, o uso dos tempos
compostos, retirados de livros de espanhol língua estrangeira (ELE), respondidos por
estudantes universitários de Letras/Espanhol, professores de ELE e um grupo controle
formado por falantes nativos de espanhol de diferentes nacionalidades, bem como a
observação do Corpus de Aprendizes (CoMAprend), ambos analisados qualitativamente.
Durante a análise e discussão dos resultados, observou-se que, apesar de o PB e o E terem
em seu quadro verbal os dois tempos compostos do MS referidos, as línguas não
coincidem em todos os usos dos tempos. Do mesmo modo, foi possível perceber que no
processo de AL2 os aprendizes não transportam todas as estruturas da L1 para a línguaalvo, mas sim passam pelo processo de reordenação dos traços. Nesse sentido, esta
dissertação corrobora os estudos de AL2 ao concluir que as sentenças subordinadas
substantivas agramaticais produzidas pelos aprendizes de E como L2 se devem à
reordenação dos traços morfossintáticos e semânticos que envolvem a seleção dos tempos
compostos do MS.