Desde a publicação de Palestina, do maltês Joe Sacco, na década de 1990, o Jornalismo em
Quadrinhos (JHQ), nome dado às produções que unem o discurso jornalístico com a linguagem
dos quadrinhos, popularizou-se pelo mundo. Trabalhos que utilizavam o rótulo JHQ passaram
a se tornar mais frequentes, inclusive no Brasil. O JHQ, no entanto, nasceu bem antes dos
trabalhos de Sacco: no final do século XIX, o ítalo-brasileiro Angelo Agostini já atuava como
jornalista e quadrinista, produzindo reportagens gráficas sobre assuntos diversos. Mesmo não
sendo recente e tendo se popularizado há cerca de 30 anos, o JHQ ainda é alvo de divergências
no que concerne à sua definição. Seria ele um gênero do Jornalismo ou um gênero dos
quadrinhos? A presente pesquisa parte do pressuposto de que o Jornalismo e os Quadrinhos são
esferas discursivas distintas, cada uma com tradições, organizações e linguagens próprias, e da
hipótese já discutida por Souza Júnior (2010), Archer (2010) e Ramos (2016) de que existem
diferentes gêneros jornalísticos dentro do rótulo JHQ. Haveria, por exemplo, entrevistas em
quadrinhos, perfis em quadrinhos e notícias em quadrinhos. Por meio da análise de três obras
brasileiras — Cortabundas (RODRIGUES, 2015), Notas de um tempo silenciado (VILALBA,
2015) e Raul (DE MAIO, 2018) —, tentamos verificar as diferenças genéricas do discurso
jornalístico nos quadrinhos. Para a análise, será utilizada principalmente a perspectiva teórica
de gêneros do discurso de Bakhtin (2016 [1952-1953], 2016 [1950], 2016 [1952]) e seu Círculo
e a discussão em torno de gêneros jornalísticos brasileiros conduzida por Marques de Melo
(2010, 2016) e Seixas (2009). Serão acionados também Lage (2017b [2005]) e Traquina (2005a,
2005b) para definir as características do discurso jornalístico, além de autores específicos para
cada um dos três gêneros jornalísticos encontrados nas histórias em quadrinhos. Nos estudos
sobre quadrinhos, serão acionados, principalmente, Cagnin (2014), para se falar da linguagem,
e Duncan, Taylor e Stoddard (2016), sobre a história de sua relação com o Jornalismo. Graças
a perspectiva dialógica adotada e às obras escolhidas, foi possível verificar a existência de
gêneros diferentes e, portanto, que o JHQ é apenas um rótulo dado aos enunciados jornalísticos
finalizados com a linguagem dos quadrinhos.