A investigação que apresentamos aqui se inscreve no campo discursivo dos estudos de gênero, considerando que este constitui um amplo e plural universo que afeta a esfera educacional em todas as suas dimensões. Neste trabalho,estivemos voltadas para o conjunto de enunciados do Escola Sem partido —ESP, procurando apreender as discursividadades produzidas e postas em circulação por este “movimento”, pretendendo identificar as lições emergentes calcadas em enunciados sexistas e misóginos,a fim de problematizá-las. Assim, na perspectiva de reconhecera inter-relação entre conhecimento, poder e subjetividade, procurou-se, aqui, compreender como a concepção sobre o gênero e consequentes formações discursivas podem interferir no trabalho com a identidade de sujeitos escolarizados. Considerando tal repercussão, nos propomos, nesse estudo, a debater processos de normatização de identidades marcadas pelo gênero, tomado como um dispositivo pedagógico.No que se refere à orientação epistêmica, esta pesquisa foi realizada em consonância com o campo discursivo feminista e com pressupostos das metodologias da pesquisa feminista,pós-crítica e arqueogenealógica foucaultiana. Ao definirmos tais configurações de natureza teórico-metodológicas, quisemos mostrar,nos enunciados dos arquivos escolhidos,a capilaridade e discurso generificado produzidos por campos disciplinares dispersos, que não são exatamente inovadores, mas estão em constante atualização, exacerbam e complexificam o cenário conservador, sexista, misógino e homofóbico que temos experienciado na contemporaneidade. Como resultado, observamos que o discurso do Escola Sem Partido é composto de atualizações discursivas de vários campos de saberes, em especial do religioso,cuja matriz é a heteronormatividade “compulsória”.