INTRODUÇÃO: A partir das necessidades locorregionais e socioepidemiológicas, os programas de Residência Multiprofissional em Saúde são norteados pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde - SUS. Baseiam-se nos seguintes eixos orientadores: a Política Nacional de Gestão da Educação na Saúde para o SUS; o conceito ampliado de saúde; a integração ensino-serviço-comunidade; a aprendizagem, a qual segue as linhas de cuidado, a formação integral e interdisciplinar; a descentralização e regionalização; e a articulação com a residência médica. No intuito de melhorar os processos de trabalho, bem como favorecer a assistência ao paciente, os Hospitais Assistenciais podem ser considerados locais para a reorganização do Sistema de Saúde. OBJETIVO: Este estudo analisou a Residência Multiprofissional em Saúde - RMS dentro do contexto dos Hospitais Assistenciais da Autarquia Hospitalar Municipal de São Paulo e, mais especificamente, apreendeu as percepções dos gestores, dos coordenadores locais e dos preceptores; mapeou as potencialidades e as fragilidades; bem como apresentou algumas sugestões para o aprimoramento dos programas. METODOLOGIA: Adotou-se uma abordagem qualitativa, transversal, de natureza exploratória e descritiva. A pesquisa foi realizada em três hospitais públicos assistenciais do município de São Paulo e, como parte de sua elaboração, contou com a participação de seis gestores, três coordenadores locais e oito preceptores, em um total de 17 participantes. Os programas analisados foram os de intensivismo, com sete áreas profissionais, assim como os de urgência e emergência, com seis áreas profissionais. A entrevista semiestruturada foi o instrumento empregado na coleta de dados. Utilizou-se a análise de conteúdo na modalidade temática e partiu-se de quatro núcleos temáticos: o papel da RMS no Hospital Assistencial; as potencialidades dos programas; as suas fragilidades; e as sugestões para o aprimoramento da RMS. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Quanto ao papel da Residência Multiprofissional em Saúde, nos Hospitais Assistenciais, surgiram as seguintes categorias: a RMS como um marco importante para o Hospital Assistencial; como uma ferramenta que possibilite a transformação de Hospital Assistencial em Hospital de Ensino; como um dispositivo desencadeador de mudanças institucionais; como uma estratégia de educação continuada e permanente, a qual propicia uma aprendizagem compartilhada; e, por fim, como um instrumento de melhoria no cuidado e assistência. Quanto às potencialidades que a RMS pode suscitar, salientam-se: a instalação de um ambiente de ensino e aprendizagem no Hospital Assistencial, o estímulo de uma sistematização maior da assistência e o aprimoramento do corpo clínico. Como fragilidades, cita-se: uma organização hospitalar não concebida para o seu ensino e a falta e carência de pessoal capacitado. Dentro desse contexto, os entrevistados trouxeram sugestões para o aprimoramento dos programas de Residência Multiprofissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O presente estudo evidenciou que a RMS proporcionou um crescimento institucional com um consequente aprimoramento da qualidade dos serviços que resultou em uma melhora na qualidade da assistência. Ela, igualmente, estimulou a mudança de perfil dos Hospitais Assistenciais para um perfil de Hospital de Ensino. Propiciou o crescimento dos profissionais, atuantes nos hospitais, por meio do contato direto com os residentes. Contribuiu para a reorganização dos serviços, com o aprimoramento do trabalho de equipe e com o estímulo da prática do cuidado integral. Favoreceu o processo de Educação Permanente do corpo clínico. Ademais, a implantação e a implementação da RMS encontraram resistências, as mais variadas e foi preciso enfrentar os desafios e as fragilidades, surgidas por falta da compreensão do seu papel, pelo pouco conhecimento das atribuições do tutor e do preceptor e pela resistência inicial do corpo clínico, principalmente, na fase de implantação. Alguns participantes dessa pesquisa apontaram a falta de recursos físicos e de materiais, bem como um quadro reduzido de profissionais, como fatores que dificultavam a organização da RMS. Ressaltaram, igualmente, a necessidade de uma ampliação da comunicação e organização do hospital com a instituição de ensino parceira.