O PRECE, então Programa de Educação em Células Cooperativas surgiu em Pentecoste, Ceará, em 1994, sob a liderança do professor Manoel Andrade Neto da Universidade Federal do Ceará e de mais sete estudantes que, na ocasião, estavam fora da escola. Esses seis rapazes e uma moça se reuniam em uma Casa de Farinha para estudarem juntos com o desejo de se escolarizarem e entrarem na universidade, e assim conseguiram através do PRECE. O jeito que encontraram, aprendendo em cooperação e solidariedade trouxe êxitos, pois cinco deles e a moça fizeram o ensino superior e ainda construíram um movimento de estudantes cooperativos e solidários que tem sido exemplo em metodologia participativa para agentes da educação no Ceará, Brasil e fora do país. Esse estudo objetiva compreender as condições de produção e de existência da experiência educacional do PRECE; saber como se deu o processo de aprendizagem cooperativa e solidária que gerou impactos sociais pela inclusão de jovens populares no ensino superior; evidenciar elementos impactantes e diferenciais que possibilitem a compreensão de que a experiência pedagógica tem potencial inspirador a práticas educativas em outros ambientes educacionais, formais ou não. Guiando-me pela proposta teórico-metodológica das Histórias de Vida e formação, coloco lado a lado, a minha autoanálise, pautada pelas experiências de formação na comunidade, na escola e no PRECE e a análise de nove memoriais de estudantes e líderes comunitários que caminharam comigo. Analisei episódios referentes ao antes e ao depois da experiência, em suas realidades difíceis nos rincões interioranos. Destaquei pontos fortes, valores educativos, elementos metodológicos e práticas sociais. O trabalho revela resultados que podem servir de inspiração para profissionais da área da educação que carregam grandes desafios nesse campo no Brasil. Os dados obtidos permitiram outro olhar sobre o contexto educacional e político da experiência e a percepção do valor que teve o capital social levantado pelo grupo precista na região. Vi em minhas práticas, uma convivência com o outro e uma opção de mudança de realidades excludentes para outras inclusivas e promotoras da justiça social. Percebi que a experiência do PRECE teve potencial transformador por incluir, socialmente, uma juventude vinda de famílias de baixa renda através da educação cooperativa e solidária que inseriu esse público na universidade, resultando em potente fertilidade na possibilidade de implementações em outros contextos educacionais aproximados. E nisso tudo se mantém um habitus individual e grupal, acionados e mantidos pelo campo e seus agentes através da interdependência social, protagonizando vários projetos educacionais e transformadores de vida. Por fim, essa narrativa de formação apanhou fragmentos da vida da educadora que sou, agente de uma práxis em uma experiência (trans)formadora a qual revela uma leitura de mim, do outro e do mundo nas dimensões afetiva, formativa e social.