Introdução: Diabetes mellitus pós-transplante (DMPT) tem sido uma importante
complicação do transplante renal e tem sido associado a piores desfechos, como
complicações infecciosas e cardiovasculares, perda do enxerto, aumento do custo
médico e morte. Seus fatores de risco podem ser relacionados ao metabolismo da
glicose ou às características demográficas do paciente, sendo estas divididas em
modificáveis e não modificáveis. Objetivo: Verificar a prevalência de DMPT, bem
como seus fatores de risco, no período de três anos após o transplante renal.
Metodologia: Variáveis modificáveis e não modificáveis foram avaliadas e testadas
quanto ao risco de DMPT em 450 pacientes submetidos a transplante renal e
acompanhados por três anos. O teste exato de Fisher e a análise de variâncias com
testes de Tukey para comparação múltiplas foram realizados para variáveis
contínuas ou numéricas e o teste qui-quadrado de Pearson foi utilizado para
variáveis categóricas ou nominais, P< 0,05 foi considerado estatisticamente
significante. O regime imunossupressor baseou-se principalmente no tacrolimo
(85%), prednisona (100%) e micofenolato (53%). Azatioprina e imTOR foram
utilizados em 41% e 10,2% dos receptores, respectivamente. Resultados: Na
população de estudo, 60% eram do sexo masculino, 47,2% eram negros e 57,8%
receberam rim de doador falecido. Sessenta e um (13,5%) dos 450 receptores
desenvolveram DMPT. Os fatores de risco identificados foram: idade do receptor
(46,2 ± 1,3 vs 40,7 ± 0,6, P=0,001), disglicemia pré-transplante (32,8% vs 21,6%;
P=0,032), IMC ≥ 25kg / m2
(57,4% vs 27,7%; P<0,0001), bem como hiperglicemia
transitória (P=0,0001), ocorrência de rejeição aguda (P=0,021), uso de inibidores de
canais de cálcio (P=0,014), relação Tg/HDL ≥ 3.5 (P=0,0001) e nível sérico de FK
nos meses 1, 3 e 6 (P=0,0001). Conclusão: Houve prevalência significativa de
DMPT, com maior a incidência nos seis primeiros meses após o transplante renal,
mesmo período em que foram detectados níveis séricos mais altos de FK.
Observou-se também a importância em identificar precocemente fatores de risco
associados ao aumento da resistência insulínica, como sobrepeso, obesidade,
hiperglicemia pré-transplante, hiperglicemia transitória, nível de FK e relação
TG/HDL, pois podem ser úteis para estratificação de risco dos pacientes para
determinar as estratégias adequadas, no intuito de reduzir ou evitar a ocorrência de
DMPT.